Jorge Fonseca de Almeida, Jornal de Negócios
Esta fuga de crentes e o pagamento de avultadas indemnizações às numerosas vítimas da pedofilia sacerdotal, têm colocado as finanças do Vaticano sobre enorme pressão, tornando-se necessário reduzir as despesas, nomeadamente as mais sumptuosas
A Polícia do Vaticano, agindo em sintonia com a Procuradoria do Vaticano, revistou e apreendeu computadores e documentação no departamento que gere as obras de manutenção e restauro da Basílica de São Pedro – a Fabbrica di San Pietro. O responsável do departamento já foi substituído e uma nova comissão responsável empossada. Suspeita-se de corrupção no processo de escolha dos empreiteiros e fornecedores.
A nova comissão é dirigida pelo Bispo Mario Giordana o mesmo que o ano passado encabeçou uma investigação ao Coro da Capela Sistina que terminou com o afastamento do responsável do coro. Aparentemente as receitas dos recitais nunca eram incluídas nas contas do coro, levantando dúvidas quanto ao seu destino. Infelizmente ninguém foi levado à justiça, colocando-se a questão de se o afastamento foi justo.
Depois do combate à pedofilia levado a cabo pelo Papa Francisco contra uma parte significativa da hierarquia católica que preferia a antiga política do silêncio e da culpabilização das vítimas, a luta conta a corrupção interna surge como outro traço do atual papado. Ambos têm um ponto em comum: modernizar a igreja católica e transformá-la numa organização mais responsável e transparente.
Sabe-se que nas sociedades modernas ocidentais são cada vez mais os que se afastam da religião católica e países tradicionalmente católicos como a Irlanda reportam nos censos maiorias de pessoas que se não identificam com nenhuma denominação religiosa. A proteção a sacerdotes condenados por práticas reiteradas de abusos sexuais a menores e o desvio de fundos contribuem para o afastamento dos antigos filiados.
Esta fuga de crentes e o pagamento de avultadas indemnizações às numerosas vítimas da pedofilia sacerdotal, têm colocado as finanças do Vaticano sobre enorme pressão, tornando-se necessário reduzir as despesas, nomeadamente as mais sumptuosas. Compreende-se assim a investigação aberta o ano passado pelos procuradores judiciais do Vaticano à compra de uma mansão de luxo em Inglaterra em que um intermediário se teria apoderado de milhões de euros. Mas infelizmente também neste caso ninguém foi acusado. Compreende-se igualmente a decisão de junho último de centralizar, como nos Estados mais eficientes e modernos, as compras num único departamento mais facilmente controlável e responsabilizável.
Fazemos votos para que o Papa Francisco seja bem-sucedido nesta sua luta contra a corrupção e a pedofilia no seio da igreja católica para que esta possa integrar a sociedade moderna sem levantar receios nem suspeições.
A Igreja Católica portuguesa que nunca reportou publicamente nenhum caso de pedofilia sacerdotal nem de corrupção poderia aconselhar o Papa nesta sua dupla luta contra dois fenómenos que só existem lá fora.
Economista