Gabriel Magalhães, Jornal i
Neste cenário de elevada incerteza e volatilidade, a Auditoria Interna assume um papel determinante para as organizações, devido, por um lado, ao elevado número de ameaças a que as suas atividades as expõem – incluindo o risco de fraude - e, por outro lado, às oportunidades que as evoluções técnicas e as inovações tecnológicas oferecem para o crescimento dessas ou outras atividades.
O atual cenário de pandemia provocado pelo vírus Covid-19 tem naturais impactos económicos, financeiros e sociais que afetam todas as organizações, independentemente da sua natureza ou objeto de atividade. Neste cenário de elevada incerteza e volatilidade, a Auditoria Interna assume um papel determinante para as organizações, devido, por um lado, ao elevado número de ameaças a que as suas atividades as expõem – incluindo o risco de fraude - e, por outro lado, às oportunidades que as evoluções técnicas e as inovações tecnológicas oferecem para o crescimento dessas ou outras atividades. Tal apenas se pode materializar caso a Auditoria Interna tenha a consciência de que também se deve adaptar ao “novo normal”, com agilidade e de forma sustentável, mas prosseguindo a sua função na terceira linha de defesa. Essa posição é privilegiada para ajudar nesta crise pandémica, em virtude do seu conhecimento único e transversal das organizações, que lhe permitirá avaliar o processo integrado de identificação, analise e mitigação de riscos com impacto nos objetivos e na atividade das organizações.
Neste contexto, a Deloitte publicou um documento que sintetiza o atual e futuro papel da Auditoria Interna face à nova conjuntura enfrentada pelas organizações. Algumas das conclusões podem também ser aplicadas ao fenómeno da Fraude nas organizações, uma vez que a Auditoria interna, de acordo com o mais recente Relatório Anual da Association of Certified Fraud Examiners (ACFE), é a segunda fonte mais importante de deteção de Fraude, com 15% dos casos, imediatamente atrás das denúncias, sendo que destas, 12% foram comunicadas diretamente à auditoria interna das respetivas organizações.
Segundo o estudo acima mencionado, o novo papel da Auditoria Interna deve passar por:
-Flexibilizar o plano de auditoria, sendo “agile” no seu plano anual de atividades;
-Priorizar riscos emergentes, endereçando de forma pragmática esses riscos;
-Auditar em modo remoto, mantendo a atividade de auditoria em períodos de crise;
-Coordenar com outras áreas, evitando a sobreposição com áreas de controlo e compliance, ou mesmo com o auditor externo;
-Antecipar e ajustar, alinhando recursos internos (financeiros, humanos, IT…) para a fase de recuperação;
-Assurance em tempo real, tendo uma voz ativa e presente e de atuação rápida;
-Observar prioridades e perspetivas, mantendo uma linha aberta com o órgão de supervisão e o regulador;
-Cumprir com requisitos estatutários e regulatórios, garantindo transparência e acompanhamento constante.
Para além do papel da Auditoria Interna, o estudo enfatiza igualmente os seus desafios futuros(e atuais) no fornecimento de serviços de garantia (assurance) e consultoria (consulting) nas organizações, nomeadamente:
-Trabalho remoto, assegurando a motivação, o apoio, o acompanhamento e as condições da equipa de auditoria interna;
-Ligação com os auditados, através de videochamadas com interlocutores chave;
-Independência, garantindo que a Auditoria Interna não é um obstáculo ao apoio que a organização pode necessitar;
-Antecipação do pós-covid, preparando as mudanças inevitáveis na auditoria interna e nos negócios auditados.
Por último, o estudo identifica alguns riscos emergentes para os quais as organizações devem prestar mais atenção, e que necessariamente interessam à Auditoria Interna na prevenção, deteção e combate à fraude:
-Cibersegurança, com o aumento da probabilidade de ocorrência de ataques cibernéticos;
-Controlo de acessos, avaliando segregação de funções e potenciais situações de fraude;
-Cadeia de abastecimento, face aos obstáculos à operação na cadeia de abastecimento e logística;
-Novas tecnologias, através de operações segundo novos métodos e com novas ferramentas;
-Continuidade e resiliência, com a necessidade de preparar a empresa para situações extremas;
-Controlos internos, para manter um ambiente de controlo estável;
-Contratos, face à pressão sobre entidades externas;
-Capital humano, pois é essencial manter a força de trabalho apesar das circunstâncias;
-Coberturas de seguros, em virtude da alteração ao contexto de local e acidentes de trabalho.
Todas estas considerações sobre o papel e desafios da Auditoria Interna e Riscos para as organizações em tempos de e pós-covid, deverão ser sujeitas a uma monitorização contínua e a uma eventual revisão, em função da evolução da conjuntura, que será inevitavelmente diferente daquela que vivemos até ao final do ano passado.
O impacto do vírus Covid-19 seria um dos temas a abordar na Conferência Europeia de Auditoria Interna agendada para este ano, em Portugal, numa organização conjunta do Instituto Português de Auditoria Interna (IPAI)e a European Confederation of Institutes of Internal Auditing(ECIIA), porém, em virtude da conjuntura atual, teve de ser adiada para outubro de 2022. Save the Date!