Jorge Fonseca de Almeida, Dinheiro Vivo

 

Na origem do pedido de intervenção feito pelo então primeiro-ministro ao FMI e à Comissão Europeia que desembocou na austeridade, na recessão e na perca de 10 anos de desenvolvimento económico em Portugal, esteve, como todos nos lembramos, o apelo desesperado dos Presidentes dos principais bancos portugueses para que fosse solicitada tal operação. Porque o fizeram? Porque nos mercados internacionais em que se tinham endividado já não encontravam quem os quisesse continuar a financiar. O incumprimento dos Bancos portugueses face aos seus credores internacionais estava iminente. Na base dessa dificuldade podemos entre outras causas a descida dos ratings dessas instituições. Como nos recordamos uma das primeiras medidas da Troika foi abrir linhas de crédito especiais para os bancos.

Que acontecerá agora que a crise económica se está a avolumar em todo o mundo? Como estão a reagir os bancos? Que leitura têm as agências de rating?

A S&P divulgou muito recentemente, dia 22 de Abril, uma análise sobre o setor bancário europeu e internacional. De acordo com esta influente agência o fortalecimento dos balanços e a ajuda pública às empresas e às famílias podem absorver no caso de uma recuperação económica rápida o choque da paragem provocada pelo Covid-19. Nesse cenário, apesar de alterações das perspetivas futuras (Outlook) os ratings da generalidade das instituições permaneceria intocado.

Informam mesmo que das 97 revisões de rating de bancos e instituições de crédito que efetuaram apenas as instituições muito expostas aos mercados petrolífero sofreram uma redução do rating – assim aconteceu com vários bancos mexicanos, nigerianos, kwaitianos e da Trinidade e Tobago.

No essencial esta é uma boa notícia, sendo no entanto que tem por base duas premissas algo otimistas: que a economia caíra menos de 6% e de que a recuperação será rápida.

E Portugal?

Para Portugal as notícias não são tão boas. O reforço dos balanços não foi tão forte como noutras geografias, mantendo os bancos portugueses um nível de crédito malparado ainda elevado como se constata pelos pedidos sucessivos reforços de capitais do Novo Banco.

Acresce que as ajudas às famílias e às empresas foi de pequena amplitude comparada com as dadas em muitos outros países – as filas de imigrantes brasileiros no aeroporto de Lisboa querendo fugir do nosso país e desesperadamente pedindo para ser repatriados não se repetiram noutros aeroportos europeus, sinal de que os apoios cá não chegaram onde eram precisos. Os números indicados por Isabel Jonet de 600.000 pessoas a recorrer aos bancos alimentares confirmam esta suspeita.

Nesse sentido os ratings da S&P revistos recentemente para bancos sediados em Portugal como o Haitong (ex-BES-Investimento) e do Banco Comercial Português mantiveram os ratings inalterados mas as perspetivas (Outlook) desceram em ambos os casos pronunciando eventuais descidas de ratings num futuro não muito distante.

Se as ajudas não chegarem às empresas nem às famílias os Bancos sediados em Portugal sofrerão forte abalo no futuro próximo agravando ainda mais a crise que se anuncia. E a experiência já nos ensinou o que isso significa.

Economista, MBA