Jorge Fonseca de Almeida, Jornal de Negócios

Também em vários países europeus se tem verificado que é nos municípios mais pobres e nos municípios habitados pela comunidade negra que mais casos e mortos têm ocorrido. 

As autoridades de saúde em todo o mundo têm vindo a chamar à atenção, e bem, para a particular perigosidade da Covid-19 para as pessoas que têm condições de saúde pré-existentes como a diabetes e doenças cardíacas. Contudo a realidade tem mostrado que duas outras condições pré-existentes são muito mais perigosas: a pobreza e o racismo.

A pobreza porque por um lado afasta as pessoas dos hospitais e dos tratamentos e por outro porque força o interromper sistemático do distanciamento social e da quarentena quer pela absoluta necessidade de trabalhar quer pela ausência de meios digitais para comprar bens essenciais quer pelas condições de habitação (sobrelotação, condições sanitárias inapropriadas, isolamento).

Em vários estados norte-americanos mais de metade dos mortos são afro-americanos e mesmo em estados onde a população negra é minoritária, as fatalidades são desproporcionalmente incidentes nessa comunidade – no Michigan que conta com 22% de Negros estes representam 47% dos mortos por Covid-19.

Também em vários países europeus se tem verificado que é nos municípios mais pobres e nos municípios habitados pela comunidade negra que mais casos e mortos têm ocorrido.

Também em Portugal a comunidade negra está mais exposta à doença, uma vez que incluiu muitas pessoas que, por razões económicas ou por pertencerem aos setores ditos essenciais, foram forçadas a continuar a trabalhar na maioria dos casos sem proteção (máscaras, viseiras ou fatos especiais). Os números divulgados pela DGS não incluem dados étnico-raciais mas seria importante que o fizesse para que soubéssemos qual é a realidade no nosso país. Gerir uma pandemia sem dados é desastroso, é como conduzir sem visibilidade.

Em Portugal, escandalosa mas paradigmática foi a infeção de largas dezenas de requerentes de asilo, que se encontravam à guarda do Estado português, devido às condições de alojamento em que foram mantidos (em pousadas sobrelotadas com, em alguns casos, oito pessoas num quarto!). Quem assumirá responsabilidade por esta lamentável decisão que pôs em risco a saúde de centenas de pessoas e contribuiu para a propagação da pandemia?

Este caso concentra as duas causas pré-existentes mais mortíferas: a pobreza e o racismo, já que estes refugiados se encontram desprovidos de meios e são na maioria não-brancos.

Também a solução encontrada para esta situação, depois de vários jornais a denunciaram, parece ser mais centrada no impedir que os requerentes de asilo fujam do que em garantir a sua saúde e bem-estar. Uma vergonha.

Economista