Jorge Fonseca de Almeida, Jornal de Negócios

É necessário fornecer-lhes máscaras, equipamentos de proteção, acesso a testes frequentes para que possam trabalhar com tranquilidade e sem enfrentar perigos desnecessários. Por outro é necessário reconhecer o seu esforço e risco através de um subsídio de risco mesmo que de carácter temporário.

 

A pandemia mundial acelerou e agravou a crise económica mundial de sobreprodução que se anunciava desde meados do ano passado. A disrupção das cadeias de valor nas várias indústrias tem provocado uma paragem em cascata de muitas indústrias e serviços, o turismo reduziu-se muito significativamente e a banca enfrenta agora um incumprimento generalizado de empresas e particulares. As principais bolsas mundiais registam percas da ordem dos triliões de dólares. O sentimento é muito negativo.

Os Estados europeus tem vindo a reagir como se estivéssemos em presença de uma crise de liquidez, procurando injetar fundos nos mercados, dinheiro que se esvai na tentativa de segurar as cotações bolsistas. Mas receosos de quebrar as regras do deficit e os limites ao endividamento as medidas que tomam para proteger as pessoas e manter a economia em funcionamento são tímidas e muito insuficientes. Em consequência o desemprego alastra e o número de pessoas sem apoios suficientes também. A coesão social está a erodir-se.

A fragilidade dos sistemas de saúde europeus, após décadas de ausência de investimento e de austeridade, provocam uma mortalidade escandalosamente injustificada quando comparada com a de outras geografias. A 6 de abril contava-se: União Europeia 43.973 mortos, China 3,331 mortos; comparando número de mortos por milhão de habitantes: União Europeia 98, China 2, i.e. em termos comparativos 49 vezes mais mortos na União Europeia do que na China! Como chegámos a esta situação? Muito tem de mudar.

Heróis desta crise têm sido os profissionais de saúde do SNS e muitos outros profissionais que têm mantido o funcionamento básico da sociedade (desde a recolha de lixo que se tem mantido, aos empregados dos supermercados, dos auxiliares dos lares aos enfermeiros, etc, etc.).

Curiosamente os que mais faltam fazem e que não podem resguardar-se no conforto de suas casas, são em geral os mais mal pagos, os mais precários, contando-se entre eles muitos imigrantes e muitos membros das populações racializadas. Eis um sistema de recompensas invertido.

É também nestes grupos que se verifica, em vários países europeus, altas taxas de infeção e de mortalidade. Em Portugal a DGS apenas tem fornecido números para o pessoal de saúde, números que confirmam a tendência europeia.

Por isso é urgente criar para os que estão na linha da frente as condições para desempenharem as suas funções e para serem tratados com justiça.

É necessário fornecer-lhes máscaras, equipamentos de proteção, acesso a testes frequentes para que possam trabalhar com tranquilidade e sem enfrentar perigos desnecessários. Por outro é necessário reconhecer o seu esforço e risco através de um subsídio de risco mesmo que de carácter temporário.

É preciso também garantir que os heróis de hoje, os que não podem estar em casa de quarentena, os que todos os dias têm de se expor, não sejam esquecidos, despedidos, abandonados, no final desta emergência. É preciso que sejam lembrados e recompensados.

Economista