Mário Tavares da Silva, Jornal i

A internet é, doravante, o palco privilegiado onde a nova criminalidade pandémica toma lugar de destaque, irradiando na sociedade, na economia e nas pessoas, todo o seu potencial de danosidade.

A atual crise pandémica não tem precedentes na história da humanidade, quer pelos efeitos diretos e indiretos que já provocou (e que continuará a provocar) quer pela exigente interpelação que faz a todos e a cada um de nós, quanto ao que verdadeiramente pretendemos para o nosso futuro.
É, sem dúvida, um momento ímpar, para que a Europa em particular e o mundo em geral, avaliem o seu passado, ponderem o presente e, sobretudo, delineiem uma visão de futuro, de esperança, mobilizadora e capaz de cerzir uma genuína, solidária e fraterna união entre todos povos.
Enquanto tudo isso não acontece, não podemos ficar parados, pois há sempre por aí uns quantos “abutres” que, no meio da desgraça alheia, alimentados pelo quadro pandémico, se aproveitam de forma despudorada, imoral, ilícita e verdadeiramente criminosa, de todos os artifícios possíveis e imaginários para aumentarem pornograficamente os seus lucros.
Num tempo difícil e de múltiplas incertezas em que os diferentes governos nacionais se preocupam em aprovar medidas tendentes a limitar a propagação do surto, apoiar os sistemas públicos de saúde, salvaguardar a economia e garantir a ordem e a segurança públicas em sufocantes ecossistemas de confinamento, mas absolutamente necessários refira-se, uns quantos predadores sofisticam o seu modus operandi e atacam, impiedosamente, sobretudo, as franjas populacionais mais vulneráveis.
Confinadas e limitadas no seu dia-a-dia a uma divisão de quatro paredes e a um computador, por vezes sem o mínimo de proteção exigida, as pessoas tornam-se mais ansiosas, quase irracionais, teletrabalhando continuamente de manhã à noite e, em tudo, dependendo do online.
A internet é, doravante, o palco privilegiado onde a nova criminalidade pandémica assume o papel principal, irradiando na sociedade, na economia e nas pessoas, todo o seu potencial de danosidade.
Dependentes do online e da voragem de mais e mais informação (ou diria mesmo de desinformação) as pessoas expõem-se a perigos que se acobertam numa sinistra dark web, qual sombra imperscrutável em que muitos “abutres” arquitetam os mais imprevisíveis ataques de engenharia social, seja através do envio de e-mails de phishing, spam ou mesmo correio eletrónico visando o comprometimento criminoso de emails comerciais dos próprios agentes económicos.
Existe, aliás, uma interminável lista de ataques cibernéticos contra organizações e indivíduos, sobretudo através de campanhas de phishing que distribuem malware e ransomware por meio de links maliciosos e de anexos executáveis, dessa forma aproveitando as preocupações duma população excessivamente focada na proteção da sua saúde, e que, sem que disso se apercebam, se enleiam em caminhos virtuais de difícil retorno.
Por fim, uma outra preocupação que devemos ter também presente é com as nossas crianças.
Não podemos olvidar que a sua vulnerabilidade aumenta na direta proporção do isolamento a que estão sujeitas, facto agravado ainda com a menor supervisão parental (sobretudo porque também os pais estão sequestrados pelo teletrabalho), o que as coloca, no limite, a uma maior exposição ao online, com todos os perigos que daí emergem.
Se me permitem, e se nada mais existisse, esta constatação deve, por si só, constituir para todos, sem exceção, um motivo sério e de grande preocupação, sobretudo no contexto particular em que nos encontramos.
Por tudo o que espreita por detrás do nosso monitor e, sobretudo, pelos perigos indicados (que, aliás, são apenas alguns dos muitos com os quais teremos que saber lidar até ao final desta pandemia e, em abono da verdade, depois dela), estejamos atentos, muito atentos, aos “abutres” do costume, que por aí sempre proliferam e cujo móbil principal foi, é, e será sempre, viver da desgraça alheia.