Jorge Fonseca de Almeida, Jornal de Negócios

Quando os sistemas de saúde ultrapassam a sua capacidade de resposta a taxa de mortalidade explode. O covid-19 é uma doença perigosa que se transforma em altamente letal quando não tratada.

 

Na guerra a indecisão, as meias medidas, a frouxidão das respostas são erros colossais que fortalecem o inimigo e se pagam em vidas humanas. A luta contra a pandemia teve já episódios deste tipo que ainda se estão a pagar.

O exemplo chinês parecesse claro – um erro inicial de apreciação levou a que o vírus se espalhasse na província de Hubei com consequências dramáticas. Uma ação vigorosa e robusta salvou o resto da China. Ao olharmos para os números da Organização Mundial de Saúde referentes ao dia 14 de março (Situation Report -54) vemos que dos 81.021 infetados e dos 3.194 mortos na China, 67.790 e 3.075 se referem a Hubei e apenas 13.231 infetados e 119 fatalidades se referem ao restante território chinês.

O isolamento de Hubei, a quarentena do país, o uso generalizado de máscaras, as medidas de higiene adotadas permitiram afastar o vírus das outras províncias que representam 95% da população chinesa. A seguir a Hubei a província mais afetada foi Guangdong (mais de 100 milhões de habitantes) com 1356 infetados e 8 mortos. A província com mais mortos excluindo Hubei, foi Henan (mais de 90 milhões de habitantes) teve 22 mortos em 1.273 infetados.

Na Europa a resposta tem sido muito menos eficaz. Vários países, com populações inferiores às províncias chinesas, já têm muito mais infetados e mortos. É o caso da Itália, o mais dramático, mas também a França, a Espanha, o Reino Unido.

Os números apontam para duas conclusões: i) enquanto os sistemas de saúde aguentam os casos registados a taxa de mortalidade é relativamente baixa (embora muito maior do que a gripe e outras viroses sazonais); ii) quando os sistemas de saúde ultrapassam a sua capacidade de resposta a taxa de mortalidade explode. O covid-19 é uma doença perigosa que se transforma em altamente letal quando não tratada; iii) perante um foco, como foi a Itália, é preferível isolá-lo e transferir para esse lugar os meios de combate – permite salvaguardar as restantes áreas e tratar com os doentes da zona infetada com todas as condições.

Todos os esforços para "aplanar a curva" isto é para evitar que toda a gente apanhe a doença ao mesmo tempo sejam fundamentais. Tais medidas incluem: isolamento dos focos, quarentenas, encerramento das atividades, isolamento social e uso de máscaras. Para implementar estas medidas não chega, em Portugal, aconselhar as pessoas. É preciso em muitos casos agir de forma firme, dispersando ajuntamentos festivos ou desnecessários, encerrando estabelecimentos como ginásios, bares, praias, restaurantes, etc.

Medidas frouxas ou meias medidas não servem para nada

Em tempo de paz os exércitos de todo o mundo armazenam armas aparentemente não necessárias mas que se rebentar uma guerra ou se o país for atacado possam ser de imediato ser usadas. As forças armadas treinam regular e continuamente tropas de reserva que em caso de necessidade são rapidamente mobilizáveis.

Na guerra contra o novo coronavírus muitos países têm sido apanhados sem armas armazenadas nem tropas de reserva que pudessem ser utilizáveis. Uma imprudência que se paga caro. É assim que se perdem as guerras.

O caso italiano em que os meios físicos – ventiladores, camas hospitalares, medicamentos, máscaras, etc. – e os meios humanos – ausência de médicos e outro pessoal de saúde – mostram a importância das reservas como meio indispensável para combater com êxito qualquer confronto.

Esta é uma lição que devemos aprender, não devemos ter apenas os meios estritamente suficientes para uma situação de normalidade, mas sim acumular as reservas para uma emergência de grande escala.

É que, como o apelo dramático italiano de ajuda que ficou basicamente sem resposta (exceto de Cuba e da China) demonstra que não podemos contar com os outros em momentos de aflição geral. A máxima do egoísmo das soberanias aflora em tais circunstâncias na máxima força. É a lei da selva nas relações internacionais. Cada um por si e ai dos fracos. É esta a União Europeia que criámos.

Economista