Filipe Pontes , Visão online

Neste ambiente e apesar de todo o pendor positivo, Portugal desce em rankings de atratividade pela incerteza fiscal e desce em rankings de transparência por não cumprir grande parte das recomendações apresentadas e que levariam num sentido de maior transparência.

O que se vive e sente é cada vez mais um sentimento semelhante ao de pré-crise de 2008 existem sinais que não se escondem de um aumento do endividamento, por exemplo, pela Deco que refere que o número de famílias endividadas tem vindo a aumentar por um lado e, por outro, que os níveis de poupança atingem níveis mínimos históricos de 4%, que apontam para uma maior dependência do crédito para o consumo em detrimento da poupança. Ou seja, não se incentiva à poupança pelos níveis historicamente baixos das taxas de juros, mas recorre-se a crédito com facilidade com taxas de dois dígitos que chegam a atingir os mais de 30 % no caso de alguns cartões de crédito. Compromete-se no curto prazo a receita prevista, na expetativa que o rendimento cresça.

No médio e longo prazo, o crédito hipotecário bate recordes e aproxima-se do valores pré-crise com spread próximos de 1% e taxas diretores com valores nos mínimos históricos e com previsão de se manterem assim nos próximos 3 anos e, desta forma, compromete-se o futuro, pois os empréstimos são em média por períodos de 20-30 anos, onde a única certeza que se tem é que esta taxa tenderá a aumentar quando a Presidente do BCE Christine Lagarde reduzir os instrumentos de incentivo com a  manutenção destes valores em níveis baixos.

No mercado imobiliário o abrandamento começa-se a sentir com o abrandamento do crescimento do valor por metro quadrado, pelas alterações nos regulamentos municipais do alojamento local em Lisboa, pelo fim dos vistos Gold em Lisboa e no Porto e pela nuvem negra que começa a pairar mesmo no mercado de escritórios, pós conclusão dos investimentos em curso.

Passados vários anos de retoma, ficamos todos com uma sensação de que algo de estranho se passa, ainda mais confirmada com a aposta no crescimento, via consumo, sem o devido e proporcional acompanhamento de produtividade.

A carga fiscal encontra-se em níveis elevados confirmando esta aposta, pois nos últimos anos o ganho tem sido acentuado na receita via impostos indiretos, nomeadamente no IVA.

Conseguimos voltar a atingir níveis mínimos na taxa de desemprego, numa tendência acentuada embora com sinais contrários.

Neste ambiente e apesar de todo o pendor positivo, Portugal desce em rankings de atratividade pela incerteza fiscal e desce em rankings de transparência por não cumprir grande parte das recomendações apresentadas e que levariam num sentido de maior transparência.

Existem, ainda, nas últimas semanas notícias que apontam para algumas nuvens novamente em alguns bancos que aparentemente estavam resolvidas, como é o caso do Eurobic e outros que se arrastam, como tem sido o caso do Montepio que se tratando de um tema sensível não é novo.

Vemos, assim, que apesar do muito que passámos, no mínimo pode-se perguntar: Que lição tirámos? O que aprendemos? O que se alterou para que não voltasse a acontecer…