Rute Serra, Jornal i

“No creo en brujas, pero que las hay, las hay”

Qualquer empresa devidamente esclarecida tem sedimentadas as consequências da ocorrência de situações fraudulentas, desde logo na sua imagem reputacional. Mas não só. Impactos negativos consideráveis nos lucros ena legalidade das operações, permitindo a aplicação de sanções, são preocupações reais que têm impulsionado os sistemas de compliance a trilhar o seu caminho.
Recentemente, a consultora Deloitte divulgou o primeiro Fraud Survey Portugal, documento que espelha a mais recente percepção dos funcionários relativamente a fenómenos de fraude, dentro das suas organizações. De entre as várias conclusões alcançadas, destaco o facto aparentemente contraditório de 64% dos inquiridos considerar que os mecanismos de prevenção da fraude em Portugal melhoraram, não obstante 47% acreditarem que as situações de fraude nas empresas aumentaram nos últimos anos e 70% estarem convencidos que aquelas não tenderão a diminuir, nos próximos anos.
Ora, precisamente o que está aqui em causa é a percepção por justaposição à realidade, do fenómeno da fraude. E o que contribui definitivamente para esta discrepância será muito provavelmente o facto de não encontrarmos quantitativos e caracterizações cientificamente credíveis, da real dimensão da fraude. Vivemos dentro do velho axioma: “No creo en brujas, pero que las hay, las hay”. Evoluir dos estágios de percepção para o estudo aprofundado da realidade permitiria, com maior grau de fiabilidade, encontrar as soluções adequadas a prevenir, detectar, mitigar e sancionar, as ocorrências de fraude. Por outro lado, reconhecidamente mais e melhor justiça, fomentará um desejado ajuste às percepções evidenciadas.
Permitir que a influência dos opinativos domine o conhecimento assente em factos, reduz a hipótese de se implementarem as melhores soluções.
Outra das conclusões daquele survey a merecer relevo é a relativa às áreas de negócio consideradas mais propícias ao surgimento da fraude, com a contratação pública a surgir na pole position das desconfianças, seguida das áreas comercial e de financiamento. Sobre esta ilação, independentemente da sua efectiva correspondência, importa referir o esforço que vai sendo feito em Portugal, nomeadamente na digitalização total dos processos de compras públicas.
Mas não duvidamos que o recurso às mais modernas ferramentas digitais que permitam mitigar o erro analítico conduzirá indubitavelmente a ganhos, entre outros, ao nível da transparência, desde que em subordinação a uma abordagem holística que incorpore boas práticas em técnicas de computação, ética e garantia da informação.
Assim os lucros das empresas o permitam.