Jorge Fonseca de Almeida, Jornal de Negócios
A única conclusão possível é que com este tecido empresarial a produtividade não pode aumentar de forma sustentável e robusta nos próximos anos. Porquê? Porque não é possível aumentar de forma continuada a divisão de trabalho quando só existem meia dúzia de empregados na empresa.
Adam Smith escreveu que o aumento da produtividade advinha da cada vez maior e mais fina divisão do trabalho. Não de aumentar os horários de trabalho, de reduzir ordenados, eliminar pausas ou de impedir os operários de ir à casa de banho mas sim de analisar um processo produtivo, subdividi-lo em fases autónomas e independentes. E claro, mecanizar todas as etapas que o possam ser. Hoje a mecanização passa pela robotização e pela digitalização e informatização. O economista morreu há mais de 200 anos mas o segredo permanece o mesmo: a simples divisão do trabalho.
A análise do processo produtivo e a sua subdivisão em fases cada vez mais atomizadas, mecanizadas e informatizadas é pois o cerne da produtividade. Só assim se é capaz de incorporar mais trabalho, i.e. mais valor, no produto final.
Antigamente uma escola primária tinha só um funcionário: o professor. Ele desempenhava todas as tarefas quer de ensino, vigilância e manutenção da ordem dentro e fora da sala de aulas, inscrição dos alunos e demais obrigações administrativas. A escola da minha avó era assim. Adultos, só ela. Material de apoio: uns quantos mapas e giz. Naturalmente que não podia ter muitos alunos. Por essa época, há cerca de 100 anos, a maioria da população era analfabeta em Portugal em contraciclo com toda a restante Europa.
Naturalmente que quando o trabalho foi subdividido entre o ensino (para o professor), o apoio, vigilância e manutenção da ordem fora das salas de aulas (para os auxiliares), as inscrições, os lançamentos de notas, etc. (para o pessoal administrativo) e a gestão destas várias tarefas (a direção) foi possível ter escolas maiores, aumentar o número de alunos e diminuir fortemente o custo por aluno.
O mesmo se passa na produção industrial ou nos serviços. Ora quando olhamos para o tecido empresarial português é cada vez mais difícil encontrar uma empresa industrial ou de serviços portuguesa que não seja uma micro ou pequena empresa. Segundo o Pordata em 2017 existiam 1.259.234 PME e apenas 1.202 grandes. Estas grandes por sua vez são na sua esmagadora maioria empresas estrangeiras.
A única conclusão possível é que com este tecido empresarial a produtividade não pode aumentar de forma sustentável e robusta nos próximos anos. Porquê? Porque não é possível aumentar de forma continuada a divisão de trabalho quando só existem meia dúzia de empregados na empresa.
A mecanização, informatização ou digitalização também não é possível. Será rentável informatizar uma tarefa que demora meio-dia por semana? Ou digitalizar um processo que ocorre dez vezes por mês. Ou fazer outscoucing do serviço ao cliente de uma empresa com 20 clientes? E grandes investimentos para poupar energia? Apostamos que não.
Por definição numa empresa de uma pessoa – o dono/empregado faz tudo. É a maior ineficiência e a menor produtividade possível. Essa pessoa distribui o seu tempo por tarefas de alto valor acrescentado mas também executa as de baixo ou muito baixo valor. Só o crescimento do número de empregados lhe permitiria melhorar a produtividade através da divisão de trabalho e da especialização. Mas a verdade é que estas empresas não dispõem dos recursos nem dos mercados para tal expansão.
A realidade pouco ou nada se altera se em vez de um forem meia dúzia de empregados na empresa. Fica claro que a produtividade, sem mexer na estrutura empresarial, não pode ser a via para a melhoria da riqueza nacional, antes a estrada que nos tem levado ao empobrecimento e ruína.
Perdemos tanto tempo a discutir o desastroso deficit zero mas nem um segundo a perceber como mudar radicalmente esta ruinosa estrutura do tecido empresarial.
E, contudo, o segredo da produtividade descoberto por Adam Smith, é bem conhecido: divisão do trabalho. E a produtividade é uma das principais chaves para o aumento da riqueza nacional, da sustentabilidade das reformas, a prosperidade das gerações futuras e a perenidade do nosso país.
Porque não consegue o Governo concentrar-se no que verdadeiramente é importante?
Economista