Jorge Fonseca de Almeida, Jornal de Negócios

Eis a fragilidade do nosso turismo, a falência de uma empresa estrangeira pode lançar uma crise no setor e colocar em causa o equilíbrio das contas externas portuguesas, implicar um aumento de desemprego e, inclusivamente, travar o crescimento económico do país.

 

O crescimento económico dos últimos anos tem sido conseguido, em grande parte, devido ao enorme aumento do turismo. Mesmo a recuperação do consumo que alguns atribuem a aumentos salariais e de pensões arrancados ao Governo pela necessidade de negociação à esquerda deve-se, em boa medida, ao consumo de turistas e de reformados estrangeiros que se fixaram no nosso país.

Ora o turismo dito português depende em larga escala de empresas estrangeiras que para o nosso país canalizam os seus nacionais em férias. Nunca conseguimos pôr de pé uma organização portuguesa capaz de angariar os turistas que queremos que visitem o nosso país. Essa dependência de entidades externas é fatal para a sustentabilidade deste importante setor da nossa economia, tornando-o totalmente dependente de acontecimentos noutros países.

Uma importante origem desses turistas é o Reino Unido, país da Thomas Cook o gigante do turismo que acaba de entrar em falência deixando dívidas um pouco por todo o mundo, incluindo avultadas verbas a diversas empresas portuguesas. Muitas poderão não sobreviver a este revés financeiro.

Tão mau como as dívidas não pagas é o fluxo de centenas de milhares de turistas que é interrompido. A Thomas Cook era uma das grandes fontes de turistas ingleses e de outras nacionalidades para Portugal.

São centenas de milhares de reservas que desaparecem, são centenas de milhares de turistas que não virão este ano a Portugal com todas as consequências que tal acarreta quer para o emprego, quer para as exportações (o turismo é considerado uma exportação de serviços), quer para a balança externa do nosso país.

Eis a fragilidade do nosso turismo, a falência de uma empresa estrangeira pode lançar uma crise no setor e colocar em causa o equilíbrio das contas externas portuguesas, implicar um aumento de desemprego e, inclusivamente, travar o crescimento económico do país.

Eis como se manifesta a dependência externa de um setor. Eis como se testa a sustentabilidade de uma economia.

Se a esta falência se somar um Brexit sem acordo o impacto no setor será ainda mais devastador.

Mas pior é que ainda não ouvimos publicamente o Governo explicar que medidas pretende tomar para evitar o pior. Não percebemos que exista uma estratégia a implementar perante um acontecimento relevante mas perfeitamente antecipável (a Thomas Cook estava há longos meses em negociações com os credores e perante a alternativa de se recapitalizar ou falir). Também não sabemos de planos alternativos para o caso de um Brexit sem acordo, estratégia principal do governo britânico, se concretizar.

Países como a Espanha e a Tunísia estão a tomar medidas tendentes a minimizar o impacto da falência da Thomas Cook e a preparar-se para um Brexit sem acordo.

A prospetiva, o desenho de cenários e a preparação de planos de ação para os casos mais prováveis são instrumentos de planeamento e de administração dos países bem governados. Estes instrumentos parecem estar ausentes em Portugal.

Economista