Jorge Fonseca de Almeida, Jornal de Negócios

Recentemente promoveu o Presidente da República uma feira do Livro nos Jardins do palácio de Belém. Uma iniciativa louvável. Apaixonado por livros enfrentei uma longa fila pelo prazer de encontrar livros desconhecidos, procurar relíquias, ver os autores, folhear livros, sentir o cheiro a papel imprenso.

Os responsáveis presentes classificaram a pergunta de surpreendente. Nunca pensavam nesses termos. Escritor é escritor. Cor da pele não é critério de seleção. Não sabiam. Aliás as editoras é que escolhiam os autores presentes. Claro que há excelentes autores Negros. Portugueses inclusivamente. Poetas também. Que visse a lista.

Fui ver a lista. Nenhum Negro. Uma resposta esclarecedora.

Os Estados Unidos têm 12% de Negros na sua população. Provavelmente uma percentagem semelhante à de Negros na população portuguesa. Não sabemos com total rigor porque o INE se recusa a recolher estes importantes dados.

Apesar disso enquanto em Portugal é aparentemente pacífico declarar que se não olha a cores e não convidar um único Negro, o mesmo acontecimento nos Estados Unidos seria um escândalo nacional e rolariam cabeças. Nem mesmo Trump se atreveria a tanto. 

Em Portugal muitos que se ergueriam, com razão, contra tal discriminação se ocorrida nos EUA de Trump não vêm mal na mesma atitude praticada pelo Presidente português. 

O Presidente da República é de louvar pela iniciativa, oportunidade e qualidade da Feira do Livro que promoveu mas deve também impor regras de equilíbrio e equidade aos organizadores pelo que deve ser reprovado e criticado pela discriminação efetuada. 

É que quando se não fazem perguntas surpreendentes os resultados são o desastre do costume.

Economista