Jorge Fonseca de Almeida, Jornal de Negócios
Na quinta-feira passada, dia 15 de agosto, as ações da General Electric (GE), uma das maiores empresas norte-americanas, caíram abruptamente mais de 10%. Na raiz desta espetacular desvalorização está um relatório que acusa a empresa de estar envolvida numa fraude contabilística maior do que a que deitou por terra a Eron em 2001.
As contas da empresas não refletem a verdadeira situação financeira da empresa afirma o relatório produzido pela equipa de Harry Markopolos o famoso especialista em contabilidade empresarial, o homem que desmontou o esquema do financeiro Madoff.
Do que foi possível apurar por Markopolos existiria uma fraude no valor de 38 mil milhões de dólares, no que designou de "ponta do iceberg".
O relatório tornado público explica que a fraude foi descoberta ao comparar as contas individuais das companhias de seguros da GE Capital com as contas consolidadas da GE. Como as contas de uns e outros não são compatíveis alguma das partes está a esconder parte da realidade. Como ambas as partes pertencem à GE parece não haver dúvidas de que a empresa está envolvida de uma forma ou de outra.
A fraude radica no não reconhecimento nas contas consolidadas da GE de prejuízos em seguros de cuidados de longa duração ("Long Term Care" - LTC). No caso da ERAC, uma das seguradoras envolvidas, a idade média dos segurados é já de 75 anos e os prejuízos vão-se acumulando à medida que os clientes envelhecem.
Recorde-se que os seguros de cuidados de longa duração garantem o pagamento de lares, apoio domiciliário, ou de outras unidades de cuidados na terceira idade.
O custo elevado destes seguros, acima dos 2.000 USD por ano, exclui a grande maioria da população americana, pelo que os que o podem adquirir são exatamente os que vivem mais e que o acabarão por precisar deste tipo de cuidados. Uma seleção negativa que está a causar prejuízos de dimensões verdadeiramente colossais.
As reservas das companhias de seguro da GE não estão preparadas para os pagamentos de seguros que se aproximam. Muitos estimam que o ratio de prejuízo vai passar dos estonteantes 750% para mais de 1.000%. As reservas têm de ser reforçadas em 28 mil milhões, que não estão registados nas contas da GE.
Adicionalmente o relatório acusa a GE de esconder 9,1 mil milhões de dólares de perdas com a compra e posterior venda da empresa Baker Hughes.
Na sexta-feira o CEO da empresa efetuou uma volumosa compra de ações da GE procurando infundir confiança no mercado. A cotação subiu efetivamente. Aguardam-se os próximos episódios.
Uma coisa é certa: uma falência desordenada da GE lançará ondas de choque por todo o planeta, incluindo em Portugal onde a GE tem vários negócios dirigidos de Espanha, nomeadamente na área financeira. É preciso estar atento.