Jorge Fonseca de Almeida, Jornal de Negócios

De 2015 a 2017 o Deutsche Bank pagou de acordo com a Bloomberg mais de 11 mil milhões de dólares de multas e coimas a autoridades judiciais norte-americanas ou inglesas por violar seriamente as leis desses países.

Nos últimos anos o Deutsche Bank tem sido sistematicamente condenado e multado pelos reguladores norte-americanos por violações das regras internacionais sobre lavagem de dinheiro. Estas regras pretendem combater a corrupção, a evasão fiscal e o financiamento do terrorismo.

De 2015 a 2017 o Deutsche Bank pagou de acordo com a Bloomberg mais de 11 mil milhões de dólares de multas e coimas a autoridades judiciais norte-americanas ou inglesas por violar seriamente as leis desses países. É uma quantia gigantesca. Maior do que muitas décadas de lucros de qualquer banco português. E se pensarmos que o banco alemão conseguiu em 2018 apresentar lucros pela primeira vez desde 2014 podemos perceber que se trata de quantia relevante mesmo para o colosso alemão.

Ainda de acordo com a Bloomberg as condenações são diversificadas desde a prática de esquemas de manipulação de taxas de câmbio, conluio para a cartelização da Libor (taxa de juro da libra esterlina), venda consciente a clientes de ativos tóxicos, lavagem de dinheiro, ajuda à evasão fiscal como se soube pelos Panamá Papers, etc., etc..

Em janeiro deste ano, de acordo com o relato da agência Reuters, descobriu-se igualmente uma fraude montada pelo banco relativa a dividendos e juros de ações e obrigações em que o banco emitia falsas declarações de retenção na fonte de impostos que depois eram usadas para obter reembolsos fiscais.

Curiosamente o Deutsche Bank surge agora envolvido num caso de alegada fraude bancária com possíveis ramificações à Casa Branca e que está a abalar a sociedade norte-americana.

Acresce que se provou que em muitas destas situações os serviços internos de Compliance alertaram para a violação das regras, mas os funcionários que o fizeram foram calados e em alguns casos mesmo despedidos.

A atuação do banco parece consistente com um desrespeito sistemático das leis e regras financeiras alemãs, americanas e internacionais.

A questão que muitos levantam é a de saber se o banco pode ser reformado e se o poderá ser pelos que o dirigiram durante estes anos. Outra questão que, naturalmente, se pode colocar é o do papel da regulação alemã e do seu aparente falhanço. Em contrapartida note-se a eficiência da regulação anglo-saxónica.

Recorde-se que a regulação alemã tem servido de exemplo à regulação financeira no interior da zona euro. Nada que nos possa deixar muito tranquilos. 

Economista