Ana Clara Borrego, Visão online

Não será, pois, exagero assumir que Contabilista Certificado, num futuro muito próximo, será uma profissão com elevada procura no mercado, para a qual, consequentemente, devido à escassez de oferta, os níveis salariais terão tendência a subir.

Numa época em que muito se fala e escreve sobre a empregabilidade dos cursos superiores e na sua capacidade de resposta às necessidades do mercado de trabalho no escopo dos profissionais que formam, apraz-me escrever sobre uma profissão cuja atividade é preponderante para o “bom caminho” das contas públicas, pois é através dela que grande parte dos impostos, que suportam a despesa pública, são cobrados – profissão, que, pode ter, também, um papel de relevo em áreas como a do cumprimento fiscal, bem como da evasão e fraude fiscal: Os Contabilistas Certificados.  

A complexidade e a globalização dos negócios criaram, nas últimas décadas, por um lado, uma necessidade crescente de harmonização contabilística entre os países, de forma a permitir que a informação financeira gerada seja, cada vez mais, entendível por todos, como uma espécie de linguagem universal; por outro lado, o uso, por parte dos contribuintes, de mecanismos, cada vez mais elaborados e refinados, que visam evitar, diminuir ou diferir o pagamento de impostos, forçaram os sistemas fiscais a adaptar-se, através da criação de regras gerais e específicas anti abuso, que foram, sistematicamente, crescendo em complexidade, aumentando a quantidade e complexidade das obrigações contabilísticas e fiscais a que estes profissionais têm de te ter capacidade para dar resposta.

Assim, referindo-me, em concreto ao caso Português, esta profissão tem atravessado, nos anos mais recentes, grandes desafios, que têm exigido da parte dos profissionais que se encontram no ativo uma grande capacidade de adaptação, exigindo-se, também, às instituições de ensino superior, que preparam os novos profissionais para o mercado de trabalho, a flexibilidade e adaptabilidade necessárias para que os cursos acompanhem as exigências, cada vez maiores, deste mercado de trabalho com características tão peculiares – inevitavelmente, o nível de complexidade e exigência do ensino desta profissão aumentou consideravelmente nas ultimas décadas.

Assim, o nível de exigência que, inevitavelmente, está associado aos cursos que dão acesso à profissão de Contabilista Certificado, bem como o obstáculo que para muitos licenciados se torna o processo de inscrição na sua Ordem profissional, “travou”, ao longo das últimas duas décadas, o número de entradas de novos Contabilistas Certificados no mercado de trabalho, contribuindo para que, a pouco e pouco, os Contabilistas Certificados se viessem a tornar uma profissão com uma população tendencialmente envelhecida.

Dados recolhidos para a minha tese de doutoramento em 2013, apresentados na Figura 1, permitem verificar que, já à data, cerca de 45% dos profissionais no ativo tinham 50 anos ou mais e só se encontravam 16% dos profissionais no ativo no escalão de 35 anos ou menos. Importa salientar que após a recolha destes dados já decorreram 6 anos, sendo, na minha opinião, legítimo (não obstante não tenha dados estatísticos que a suportem), supor que o envelhecimento associado à profissão de Contabilista Certificado, durante este período, tenha aumentado.

Figura 1 – Frequência relativa de Contabilistas Certificados no ativo por escalão etário (Fevereiro de 2013)

O diminuto numero de novas entradas na profissão, que não consegue compensar o numero de “saídas” por reformas, falecimentos, ou outros motivos, tem estado, nos últimos anos a ter um impacto positivo nos níveis de empregabilidade dos recém-licenciados provenientes de cursos de contabilidade, com o mercado de trabalho a absorver, nos casos que vou tendo conhecimento, toda a oferta de jovens licenciados disponível (inclusivamente de recém licenciados que não conseguiram aceder, ainda, à inscrição na Ordem dos Contabilistas Certificados).

Todavia, na minha perceção, esta situação de quase equilíbrio entre a oferta e a procura, começa a estar ultrapassada e a oferta apresenta os primeiros sinais de incapacidade de dar resposta à procura, começando a surgir ofertas de emprego nesta área para as quais não há quaisquer candidatos. Não será, pois, exagero assumir que Contabilista Certificado, num futuro muito próximo, será uma profissão com elevada procura no mercado, para a qual, consequentemente, devido à escassez de oferta, os níveis salariais terão tendência a subir.

Não posso deixar de terminar esta crónica referindo que discordo em absoluto daqueles que profetizam a «morte» desta profissão, devido às capacidades das novas tecnologias, mormente, no que concerne à integração automática de um conjunto alargado de informação nos programas de contabilidade – por exemplo, a partir do e-faturas. Só posso classificar esse avanço como excelente, pois liberta os Contabilistas Certificados que o fazem (acresce que esse nem deveria ser o seu trabalho) de um trabalho moroso e rotineiro e sem valor acrescentado, para se dedicarem a ser uma mais-valia dentro das organizações. Neste ponto, para que melhor se compreenda o que acima referi, vou-me socorrer das palavras da Srª Bastonária da Ordem dos Contabilistas Certificados, a qual refere que Contabilista Certificado se preconiza como “…uma profissão especializada e com atores dinâmico, interventivos e qualificados…” (Paula Franco, In Editorial da Revista «Contabilista» de Dezembro de 2018).