Jorge Fonseca de Almeida, Jornal de Negócios

A generalidade dos países gasta entre 25% e 30% da energia consumida em transportes. Portugal ultrapassa o 40%!! Uma ineficiência completa.

Apesar de condições hidrográficas, eólicas e solares excelentes para a produção de energia Portugal continua a comprar volumes muito significativos de petróleo e gás. Essa é uma das mais pesadas faturas de importação do nosso país.

Mandaria a prudência e a boa governação que as autoridades incentivassem políticas de eficiência energética de modo a que este recurso caro fosse utilizado com parcimónia e sabedoria. Nada contudo mais afastado da realidade.

A Comissão Europeia publica regularmente informação sobre a produção e consumo de energia desagregada por países. Vejamos como gasta Portugal a pouca energia que produz e a muita que importa (ver tabela).

Portugal é, a par da Espanha, um dos países europeus que mais gasta energia em Transportes. 42% do total do consumo de energia esvai-se em deslocações.

Um país muito maior em termos territoriais, semelhante em termos populacionais e mais avançado em termos económicos (portanto com possibilidade de maior número de pessoas ter carro próprio) como a Suécia gasta apenas 27,6% do seu consumo de energia em transportes. A generalidade dos países gasta entre 25% e 30% da energia consumida em transportes. Portugal ultrapassa o 40%!! Uma ineficiência completa.

Que transportes utilizam tanta energia? Será a aviação, os comboios ou a navegação? Na verdade são os transportes rodoviários que utilizam 80% do consumo de energia em transportes. A aviação consome 18% e os comboios apenas 2%.

Como se poderá, então, reduzir a fatura energética do país em transportes? Como se poderá aumentar a eficiência do uso de energia neste domínio? A resposta parece clara. Reduzindo os gastos em energia de transportes rodoviários?

Como o fazer? Várias alternativas são possíveis, desde a melhoria do parque automóvel, a restrição de áreas urbanas à circulação, do incentivo a mobilidade suave, mas principalmente através da expansão do uso mais intensivo de transportes públicos.

Na verdade sem um maior uso do transporte público rodoviário e ferroviário não será possível diminuir significativamente a fatura energética do país e reduzir de forma relevante as importações.

É preciso, pois, uma aposta muito mais forte, clara e firme no transporte público de qualidade, que respeite horários, alargue a cobertura do território, ofereça um grau de conforto compatível com as exigências do utente atual e cobre preços compatíveis com os rendimentos dos potenciais passageiros. Portugal tem muito a ganhar. E os portugueses também.

Economista