Óscar Afonso, Dinheiro Vivo (JN / DN)

São decisivos os exemplos que vão chegando de inovação social, de empreendedorismo social, da responsabilidade social das empresas e do voluntariado

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Para muitos, os conceitos de Empreendedorismo e Economia remetem para um mundo frio, calculista, dominado pela concorrência e pela frieza dos lucros. A ideia preconcebida considera que quem não procede corretamente é eliminado, e quem é mais competente cresce, domina e adquire progressivamente mais poder. Neste contexto, a preocupação social seria desajustada e estaria longe da realidade atual.

Mas, quem analisa casos de sucesso na atividade económica sabe que a análise fria e calculista não é sempre rigorosamente verdadeira. Primeiro, os casos de sucesso – de empresas, famílias e/ou países – estão geralmente associados a valores que ultrapassam a disciplina e a racionalidade. Depois, é claro que os grandes avanços económicos, financeiros e empresariais são explicados pela maior e melhor capacidade de gerar colaboração entre pessoas, grupos, empresas e organizações. Finalmente, é necessário refletir sobre o setor social, uma realidade que envolve o público e o privado, que não exclui o lucro, mas considera-o instrumento para realizar finalidades humanas e sociais e sem o qual os avanços científicos, artísticos, culturais e sociais dos países seriam menos evidentes. Uma sociedade democrática e moderna necessita de cultivar valores da solidariedade, da confiança inter-pessoal, da subsidiariedade e da participação em tarefas comuns, remetendo para a importância que a Economia Social e o Empreededorismo Social podem desempenhar.

No contexto atual são assim decisivos os exemplos que vão chegando todos os dias de inovação social, de empreendedorismo social, da responsabilidade social das empresas e do voluntariado. Sem esses casos concretos, o tecido social seria cada vez mais frágil e a comunidade perderia naturalmente vitalidade. Sem desvalorizar toda a sofisticação e toda a relevância da análise tradicional, o carácter decisivo do capital emocional das organizações, o estudo do empreendedorismo apaixonado, a adesão espontânea a objetivos de responsabilidade corporativa e o entusiasmo que hoje existe pelo Empreendedorismo Social e pela Economia Social são uma prova que o amor, resumido no princípio simples de tratar todos como gostaríamos de ser tratados se estivéssemos no seu lugar, não pode estar separado da vida. A ideia simples que este princípio encerra é central e não deixa de ser perturbador, intrigante e (sobretudo) desafiador.