Óscar Afonso, Dinheiro Vivo (JN / DN)

Devemos dizer 'não' a uma economia da exclusão e da desigualdade social. Esta economia mata

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No domingo passado o Papa Francisco referiu que “o clamor dos pobres é cada vez mais forte, mas menos escutado, já que é dominado pelo barulho dos ricos, que são cada vez menos, mas mais ricos”. Por esse motivo, nesta crónica, re-abordo o pensamento económico do Papa Francisco na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, onde pretendeu contribuir para uma “leitura” da sociedade que atendesse aos pobres marginalizados que não acedem ao poder político, não controlam mercados, não financiam campanhas eleitorais e não compram favores.

Considera que a Economia deve contribuir para a dignidade da pessoa humana, apelando a valores como a solidariedade, a doação, a equidade, a liberdade, a fraternidade e o amor ao próximo. Para que a Economia seja “a arte de alcançar uma adequada administração da casa comum, que é o mundo inteiro”, e porque “a dignidade de cada pessoa humana e o bem comum são questões que deveriam estruturar toda a política económica”, o Estado deve, desde logo, promover a equidade. Assim, “a necessidade de resolver as causas estruturais da pobreza não pode esperar”, porque “enquanto não forem [...] solucionados os problemas dos pobres [...] não se resolverão os problemas [...]. A desigualdade é a raiz dos males sociais.”

Há que “não [...] confiar nas forças cegas e na mão invisível do mercado”, sendo que infelizmente “hoje, tudo entra no jogo da competitividade e da lei do mais forte, onde o poderoso engole o mais fraco. [...] O ser humano é [...] como um bem [...] que se pode usar e lançar fora. [...] Uma das causas desta situação está na relação [...] com o dinheiro, porque aceitamos [...] o seu domínio [...].” Aos governos deve exigir-se uma intervenção conjunta, porque a globalização difunde os atos económicos pelo mundo inteiro. “Nenhum governo pode agir à margem de uma responsabilidade comum”, porque “se queremos alcançar uma economia global saudável, precisamos [...] de um modo mais eficiente de interação que [...] assegure o bem-estar económico a todos os países.”

Em síntese, “assim como o mandamento ‘não matar’ valoriza a vida humana, também devemos dizer ‘não a uma economia da exclusão e da desigualdade social’. Esta economia mata”, desejando com isso afirmar “não” ao dinheiro que governa, em vez de servir, pois antes de existir o dinheiro já existia vida e, portanto, necessidades sociais.