Aurora Teixeira, Visão online

“se alguém tenciona plagiar compensa que esteja na política, onde a expetativa de remorso e/ou punição é mínima.”

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O fenómeno da globalização alastrou-se ao plágio académico cometido por políticos com uma voracidade assustadora, qual autêntica praga.

Nenhum país parece imune à epidemia.

No corrente ano, a praga atingiu um dos países menos corruptos do mundo, a Finlândia, que de acordo com a organização Transparência Internacional está classificada, em 2017, como o terceiro país menos corrupto do mundo no setor público, entre os 180 países avaliados. Uma investigação iniciada janeiro, em plena campanha para as presidenciais, e concluída em agosto de 2018 pela Universidade de Jyväskylä, que atribuiu o grau, revelou que Laura Huhtasaari, candidata pelo partido populista Finns Party (partido dos ‘verdadeiros’ Finlandeses) às presidenciais desse país plagiou partes consideráveis da sua dissertação de mestrado sobre o ensino multicultural - 80% das conclusões foram copiadas sem qualquer atribuição.

A Universidade de Jyväskylä informou já que, apesar das evidências, não tomaria qualquer ação adicional sobre a questão, pois o tempo para fazê-lo passou “do ponto de vista administrativo”. Mais uma ‘conveniente’ prescrição! Devemos todos agradecer à Universidade de Jyväskylä o exemplar serviço em prol da difusão da praga.

Amargamente irónico, Laura Huhtasaari trabalhou como professora de religião e professora de educação especial e é, atualmente, no Parlamento Finlandês, membro da Comissões dos Assuntos Jurídicos e da Educação e Cultura. A hipocrisia no seu ‘melhor’ e o total descrédito das instituições!

Assim, se alguém tenciona plagiar compensa que esteja na política, onde a expetativa de remorso e/ou punição é mínima.

Infelizmente, isto é um dejá vu. Em 2013, a então ministra alemã da Educação, Annette Schavan, viu o seu doutoramento, que abordava a formação de carácter e de consciência (!!!), revogado pela Universidade de Dusseldorf após serem divulgadas pelo blog ‘schavanplag’ (para ‘Schavan’ e ‘plágio’) evidências de que a sua tese continha inúmeras passagens ‘emprestadas’, sem atribuição, de trabalhos escritos por outros autores. Desde que se demitiu do cargo de Ministra da Educação, Annette foi embaixadora da Santa Sé (2014-2018) e (desde abril de 2018) primeira embaixadora da Ordem Militar Soberana de Malta. Um modelo de virtudes!

Apesar da epidemia do plágio ter já contagiado uns quantos políticos europeus, os sujeitos revelam uma considerável resiliência, como comprovam os casos referidos atrás, assim como os de Vladimir Putin, atual presidente da Rússia, acusado, em 2006, por investigadores do Brookings Institute de plagiar sua dissertação de economia, ou o de Victor Ponta, advogado, atual membro do parlamento romeno, acusado em 2012, quando era primeiro ministro, de ter plagiado a sua tese de doutoramento sobre o Tribunal Penal Internacional.

Em Portugal, a desonestidade académica dos políticos tem culminado no fenómeno do tipo ‘walking dead’ (mortos-vivos). Aparentemente, do ponto de vista político, os espécimes morreram, mas ainda andam por aí recorrendo a ‘ghost writers’ (escritores fantasmas) ou pseudo licenciaturas. No entanto, se o fenómeno de crowdsourcing anti-plágio, popularizado na Alemanha pelo wiki VroniPlag, ‘pegar’ em Portugal, poderemos assistir a uma revelação alargada da praga do plágio académico em Portugal.