Jorge Fonseca de Almeida, Jornal de Negócios

A história ensina-nos que as guerras comerciais desembocam não poucas vezes em conflitos armados de grande dimensão.

Na segunda metade do século, a China, com a sua veia exportadora, mantinha, tal como hoje, elevados superavits com a globalidade das potências ocidentais. Os ingleses, a potência dominante na época, compravam seda, porcelana e chá à China e esta basicamente não lhes comprava nada. Esta situação levava a uma cada vez maior drenagem de riqueza do Reino Unido em direção ao Império do Meio.

Os ingleses, para contrabalançar o comércio, pretendiam vender livremente ópio no mercado chinês, uma droga altamente viciante e de perniciosas consequências para a saúde. O governo chinês naturalmente reagiu e confiscou diversas remessas de ópio pertencentes à Companhia das Índias Orientais britânica.

Para impor a sua vontade e recuperar o ópio confiscado, os ingleses desencadearam uma guerra: a chamada Guerra do Ópio. O governo de Palmestron enviou a sua poderosa esquadra que desbaratou os frágeis navios à vela chineses. Seguiu-se um banho de sangue em Cantão com o bombardeamento sistemático da cidade e por fim um terrível bloqueio à capital Pequim.

Aproveitando a sua enorme superioridade militar os ingleses obtiveram uma rápida vitória e uma humilhante derrota para os governantes chineses. O tratado de Paz que se seguiu, o tratado de Nanquim, obrigava a China a ceder Hong-Kong, a abrir os seus principais portos e a permitir o comércio de ópio.

Hoje a situação parece estranhamente similar. A China permanece um país pacífico e exportador, do outro lado encontramos hoje no lugar do Reino Unido os EUA, uma poderosa potência militar também incapaz de exportar para a China, mas confrontada com um deficit comercial cada vez maior. A riqueza escoa-se uma vez mais para o Oriente.

Depois da imposição de elevadas taxas aduaneiras ao aço e ao alumínio, depois da recente imposição de 25% de direitos alfandegários sobre 50 mil milhões de dólares de importações chinesas, Donald Trump anunciou hoje mais uma ronda de novos impostos sobre as importações chinesas. Num dia declara-se disposto a negociar no dia seguinte ameaça.

O mundo assiste atónito à potência que até hoje mais ganhara com a globalização, a grande defensora do comércio livre, a fechar a sua economia quando confrontada com a concorrência superior dos produtos estrangeiros.

O mundo assiste atónito à escalada de ameaças americanas contra a China, mas também contra o Canadá, contra a Alemanha, contra a Rússia e treme com a possibilidade de esta guerra comercial desencadeada pelos Estados Unidos contra a globalidade das nações se transformar num confronto militar em larga escala.

Desta vez contudo a China não é o país comercial, desarmado e sem aliados que foi presa fácil da armada britânica na Guerra do Ópio. A aliança com a Rússia estreita-se, a orientação para a Europa cresce, a nova Rota da Seda desemboca na Alemanha.

O mundo está perigoso. As guerras comerciais terminam frequentemente em conflitos armados de larga escala.

Economista