Óscar Afonso, Dinheiro Vivo (JN / DN)
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A primeira grande vaga de globalização ocorreu no século XIX, sobretudo entre 1870 e 1913, devido à revolução industrial e à emergência de novas tecnologias de transporte e comunicação, que facilitaram as trocas à escala global. Dois outros fatores de natureza institucional e política foram ainda fundamentais: (i) o padrão-ouro, que contribuiu para a estabilidade do sistema financeiro internacional, crucial nos pagamentos transfronteiriços; (ii) acordos bilaterais de comércio que liberalizaram as trocas comerciais entre economias envolvidas.
A segunda grande vaga de globalização iniciou-se no pós-2ª guerra mundial, sendo parte integrante da criação de uma nova ordem internacional preocupada com a criação de condições que salvaguardassem a paz, e o comércio internacional era visto como essencial. Por um lado, havia a perceção de que o protecionismo pós-1913 fez colapsar o comércio mundial e gerou uma crise económica que culminou na grande depressão de 1929. Esta, por sua vez, facilitou a ascensão ao poder de movimentos nacionalistas e populistas, como o nazismo. Por outro lado, havia a perceção de que a cooperação política internacional dependia da cooperação económica internacional. Por isso, a nova ordem teve por base novos organismos internacionais: as Nações Unidas na área política e de manutenção da paz, o Fundo Monetário Internacional na área financeira, o Banco Mundial na área do desenvolvimento económico, e ainda o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT) na área do comércio internacional.
O primeiro GATT, assinado por 23 países em 1947, definiu o quadro legal para as relações comerciais entre os signatários.Ao longo das décadas seguintes foi renegociado múltiplas vezes, foi incluindo um número crescente de países e foi alargando a sua agenda a outros temas. Em 1995 deu origem à Organização Mundial do Comércio, que é atualmente uma organização internacional, com 164 países membros, e que, entre várias funções, supervisiona a aplicação e implementação das regras de comércio entre países e arbitra disputas comerciais. Será possível a recente vaga protecionista americana e britânica reverter a dinâmica de abertura dos países às trocas internacionais? Espero que não!