Manuel Castelo Branco, Visão online,

 

Quando passamos das perceções da corrupção para a experiência da corrupção, as coisas alteram-se um pouco. Da mesma forma que Portugal não parece estar tão mal em termos de desenvolvimento da Economia Verde quanto as perceções indicam, também ao nível do fenómeno da corrupção Portugal parece não estar, em termos relativos, tão mal quanto as perceções sobre ele indicam..

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Há alguns dias, tive oportunidade de ler um relatório sobre o desempenho de um vasto conjunto de países em termos de Economia Verde. Trata-se da quinta edição do relatório The Global Green Economy Index, publicado em setembro deste ano. Este relatório apresenta um ranking de desempenho, baseado num conjunto de 32 indicadores e conjuntos de dados. Para além do ranking de desempenho, o relatório também apresenta os resultados de um inquérito efetuado a profissionais trabalhando em áreas relacionadas com a economia verde, o qual dá origem a um ranking de perceção.

O que me surpreendeu foi o grande desfasamento entre a posição ocupada por Portugal no ranking de desempenho (16.º lugar) e no ranking de perceção (37.º). Enquanto no ranking de desempenho Portugal se encontra à frente de países como os EUA (30.º), o Reino Unido (25.º), a Holanda (17.º), o Japão (34.º), a Nova Zelândia (24.º) ou a Austrália (55.º), todos estes países se encontram à frente de Portugal no ranking de perceção. De forma algo estranha, neste último ranking, os EUA encontram-se em 2.º lugar, o Reino Unido em 7.º, o Japão em 9.º, a Nova Zelândia em 15.º e a Austrália em 16.º.

Conhecendo a metodologia utilizada pela organização de combate à corrupção Transparência Internacional na construção do Barómetro da Corrupção Global, ocorreu-me verificar se algo de semelhante ocorria também a este nível. Questionei-me se, também relativamente à corrupção, se poderia verificar um desfasamento semelhante ao descrito acima entre a perceção da corrupção e a experiência da corrupção. Aos respondentes ao inquérito que se encontra na base do Barómetro Global da Corrupção fazem-se, entre outras, as seguintes questões: em que medida pensa que a corrupção é um problema no setor público neste país; você ou alguém da sua família pagou um suborno nos últimos 12 meses. Da análise das respostas a estas questões surgiram dados interessantes.

Relativamente à primeira questão, numa escala de 1 a 5, das respostas ao inquérito da Transparência Internacional surgiu um resultado agregado para Portugal de 4,6, bastante superior ao resultado médio de 4,1. Dos países mencionados acima, todos apresentavam resultados mais positivos do que o de Portugal: o Japão com 4,2; os EUA com 4; a Austrália com 3,6; Nova Zelândia como 3,3. Relativamente à segunda questão, apenas 3% dos respondentes relativamente a Portugal afirmaram que sim, contra 7% no caso dos EUA, 5% no do Reino Unido, 3% no caso da Nova Zelândia, 1% nos casos da Austrália e do Japão. Ou seja, quando passamos das perceções da corrupção para a experiência da corrupção, as coisas alteram-se um pouco. Da mesma forma que Portugal não parece estar tão mal em termos de desenvolvimento da Economia Verde quanto as perceções indicam, também ao nível do fenómeno da corrupção Portugal parece não estar, em termos relativos, tão mal quanto as perceções sobre ele indicam.

Este desfasamento poderá estar relacionado com a dificuldade que os portugueses têm de confiar uns nos outros? Segundo o relatório da OCDE Como está a vida? 2015, a confiança nos outros, avaliada de acordo com uma escala de 0 (“não se pode confiar na maior parte das pessoas”) a 10 (“pode-se confiar na maior parte das pessoas”), encontra-se em Portugal (5,3) abaixo do nível médio dos países europeus da OCDE (5,8).