Filipe Pontes, Jornal i Online,

Existe genericamente uma evolução positiva nos indicadores de Literacia Financeira

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A International Network on Financial Education (INFE) da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), apresentou recentemente um estudo sobre tendências e desenvolvimentos recentes na Europa em matéria de formação financeira, no qual são também reportados os resultados preliminares de um inquérito à literacia financeira realizado em 2015 em mais de 20 países, incluindo Portugal.

A INFE foi criada, em 2008, sob a égide da OCDE para promover e divulgar princípios e boas práticas de formação financeira e funciona como uma importante plataforma para recolher dados sobre a literacia financeira, elaborar relatórios analíticos e comparativos e desenvolver investigação e instrumentos de política de incremento dos níveis de Literacia Financeira. Participam nesta rede entidades reguladoras, bancos centrais, ministérios das finanças e agências de educação financeira de países membros e não membros da OCDE.

O Banco de Portugal (BdP) e a Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) são membros da INFE. O BdP é membro fundador desta rede de literacia financeira, faz parte do Conselho Consultivo (AdvisoryBoard), órgão que estabelece orientações estratégicas, e participa em vários grupos de trabalho especializados desta rede.

 

Ora analisando os resultados verifica-se que nas questões sobre:

 

  1. Conhecimentos financeiros, os resultados do inquérito concluem que:
    1. Estamos acima da média dos países europeus no que respeita ao conhecimento dos conceitos de inflação e de diversificação de risco. Ou seja, 87% dos portugueses mostram saber o que é a inflação (média de 79% nos países europeus) e 73% compreendem que a diversificação da carteira de ações quando investem no mercado de capitais contribui para a redução do risco (média de 63% nos países europeus).
    2. Portugal está em linha com a média dos países europeus na identificação dos juros de um empréstimo (87% dos entrevistados em Portugal respondem corretamente), no cálculo de juros simples (61%) e de juros compostos (30%) e na identificação da relação entre remuneração e risco (82%).

 

  1. Comportamentos financeiros, os resultados do inquérito concluem que:
    1. Os resultados para Portugal estão acimada média dos países em Europeus em 9 de 12 questões colocadas. Neste contexto, é de destacar que 72% dos entrevistados em Portugal referem fazer um orçamento familiar (média de 63% nos países europeus); 82% analisaram algum tipo de informação antes de contratarem um produto financeiro (média de 49% nos países europeus); e 79% afirmam controlar sistematicamente as suas finanças pessoais (média de 71% nos países europeus). Com resultados ainda ligeiramente acima da média aparecem: pagamento atempado de contas (81% dos entrevistados em Portugal) e o facto de os inquiridos não indicarem a necessidade de recurso ao crédito para fazerem face às despesas quotidianas (84%).
    2. Os resultados para Portugal relacionados com a proatividade na aplicação da poupança (37%) estão abaixo da média dos países europeus, devido à propensão para deixar o dinheiro na conta de depósitos à ordem.Por último, e também ligeiramente abaixo da média dos países europeus, surge o recurso a informação independente na escolha de produtos financeiros (6%), revelando preferência pelo aconselhamento ao balcão, bem como a indicação de o rendimento não ter sido suficiente para cobrir o custo de vida nos últimos 12 meses (35%).

 

Os resultados globais deste inquérito internacional realizado pela INFE deverão ser publicados em outubro. Em Portugal, as questões da INFE foram incluídas num Inquérito à Literacia Financeira da População Portuguesa mais abrangente que foi conduzido pelo BdP, ASF e pela Comissão do Mercados de Valores Mobiliários (CMVM), no âmbito do Plano Nacional de Formação Financeira e do Programa “Todos Contam”.

 

A grande conclusão que se pode retirar destes números é que existe genericamente uma evolução positiva nos indicadores de Literacia Financeira apesar destes resultados carecerem de uma análise mais fina que provavelmente iremos conhecer na apresentação final do estudo, prevista para Outubro próximo. Para já as dificuldades de planificação orçamental, a falta de proatividade na poupança e a ausência de recolha de informações independentes apresentam-se como os principais fatores a trabalhar. Todos os esforços no combate à fraude são úteis e o conhecimento é essencial!