João Pedro Martins, Visão on line

Quando Colin Powell afirmou nas Nações Unidas que os EUA possuíam imagens de satélite que provavam a existência de armas de destruição maciça, enganou a ONU para ter luz verde para invadir o Iraque e matar Saddam Hussein.
Quando Durão Barroso recebeu Bush, Blair e Aznar na estranha cimeira das Lajes, fez batota com os eleitores depois de ter abandonado o país e foi recompensado com um salário milionário em Bruxelas.
Quando Sócrates anunciou mais 150 mil postos de trabalho se fosse primeiro-ministro, as estatísticas vieram demonstrar que a demagogia não faz milagres depois das eleições.
Quando Pedro Passos Coelho queria ser aprendiz de governante e Paulo Portas apregoava a moralidade fiscal, ambos juraram a pés juntos que não aumentariam os impostos. Bastaram poucos dias no poder e a cassete pirata foi trocada pelo discurso de austeridade.
Quando Artur Batista da Silva enganou a imprensa com um discurso estruturado e fez propostas para renegociar a dívida com a troika, o Ministério dos Negócios Estrangeiros decidiu investigar este falso consultor do Banco Mundial e funcionário de contrafação da ONU. A TSF retirou a entrevista de antena e o diretor-adjunto do Expresso juntou-se ao coro de lesados e pediu desculpa aos leitores. Afinal, o homem era um burlão com currículo.
Até agora ninguém explicou por que razão é possível branquear peças jornalísticas apenas porque cidadãos são investigados pelas secretas e se deixa de fazer o trabalho de casa antes de se pôr notícias no ar.
O que todos ficámos a saber é que quando um contribuinte critica as políticas do governo à frente de uma câmara de televisão ou de um microfone da rádio, há sempre alguém na sombra para remexer no seu passado e preparar o linchamento na praça pública.
Neste país onde crianças vão para a escola com fome, os verdadeiros burlões vivem nos bastidores e são peritos em envenenar a fonte quando a água se torna imprópria para consumo público.
A redução coerciva dos rendimentos das famílias e a ausência de vida profissional para os jovens licenciados não são simples fraudes, são burlas legais do tamanho de uma mentira que todos conhecem, mas que ninguém acreditava antes das eleições.
Será que quando um pequeno burlão denuncia um crime, como as parcerias público-privadas ou as taxas de juros imorais, é menos credível do que um alto funcionário das Nações Unidas ou do Banco Mundial?
Para perceber esta verdade não é preciso tirar uma licenciatura à pressa na universidade. Mais difícil de compreender é o facto de as Nações Unidas, através do Programa de Ajuda Alimentar Mundial, ter contratado uma empresa-fantasma acabada de criar no offshore da Madeira e derretesse toneladas de euros em serviços de logística para suposta ajuda humanitária.
A empresa-fantasma chamava-se Everywhere e estava sediada na mesma morada onde os jogadores de futebol Xabi Alonso e Mascherano se divertem no jogo da fuga legal aos impostos.
Só que neste negócio de milhões não houve um único cêntimo a cair no prato daqueles que morrem à fome.