Henrique Santos, Visão on line,
Quando Ernest Hemingway escreveu "O Velho e o Mar", nunca pensou que tal obra tivesse para a economia o efeito que teve.
Adoptado por inúmeras faculdades e escolas de negócios, o livro de Hemingway é hoje uma referência nas academias, e a melhor forma de estabelecer um paralelismo com a realidade da fraude (bem que esta frase podia ser verdade).
Para quem leu a obra, a partir de hoje ficará com uma nova percepção do seu conteúdo. Finalmente compreenderá a razão de ser dos sucessivos ataques dos tubarões, da resistência e do tamanho descomunal do peixe (digo, do seu esqueleto), do facto do pescador ser um velho, da importância da demora dos acontecimentos, da luta, do sol, etc. Para quem não leu o Livro deve acabar aqui a leitura desta crónica. Primeiro seria importante lê-lo.
Nos anos 50 do século passado, este escritor foi capaz de, num "singelo" livro, exacerbadamente metafórico, categorizar todas as personagens que envolvem a fraude, as lutas, os interesses instalados, o desejo dos mais novos, a audácia dos envolvidos, e até o tribunal muito bem representado no julgamento dos outros pescadores.
Perceber a razão pela qual um pescador, de longa idade e muito experiente, se encontrava numa maré de azar, é calcorrear o caminho daqueles que, apesar de acreditarem no sucesso do seu profissionalismo, da sua rectidão, idoneidade e ética, não conseguem tirar do mar o peixe que procuram. Nem sempre as marés ajudam, mas muitas vezes as marés não são inócuas ou naturais.
Esta luta constante, bem presente ao longo de todo o livro, traduz a nítida vontade de todos aqueles que procuram, com todo o empenho, demonstrar que é possível, que vale a pena o esforço.
Num resumo rápido, podemos descrever o enredo do livro como a luta permanente entre o Homem e a natureza, em que a sobrevivência, experiência, sorte e perseverança andam de mãos dadas. Podemos ainda acrescentar que o livro trata de um Homem que, após muita luta, consegue sucesso, mas passa a ser perseguido pelos tubarões, pelos ditos donos do poder.
Quanto ao resto, vale bem a pena o leitor estabelecer o paralelismo, que para mim é muito claro.
Sabemos agora que, na sua obra, Hemingway trocou de peixe, e deu a personagem ao Espadarte, para não existir nenhuma relação com Portugal. Na verdade tratava-se de um Robalo!