Aurora Teixeira, Visão on line,
Julgo que será relativamente consensual que um bom juiz, para além de um indivíduo profissionalmente competente (incluindo entre estas competências, um profundo conhecimento legal), comprometido com o serviço público e administração da justiça, é/tem que ser um indivíduo íntegro, honesto...
Sendo a cópia em exames um dos principais elementos da desonestidade/fraude académica, a associação entre cópia em exame e (futuros) juízes/magistrados pareceria, à primeira vista, nonsense... Pois ... pelo menos em Portugal, deixou de o ser (se é que alguma vez o foi!).
Não bastava já a divulgação (em Crónicas anteriores) da preocupante dimensão da fraude académica entre os estudantes do ensino superior e os diversos e vergonhosos plágios perpetrados por professores e ministros, eis que nem a Justiça escapa a esta verdadeira epidemia.
Após a notícia que saiu a público há dias (em sobre o copianço generalizado dos 137 candidatos a futuros magistrados (inscritos no Centro de Estudos Judiciários - CEJ), atrever-me-ia, desoladamente, a acrescentar à minha primeira frase, usando as palavras de Groucho Marx, que um 'bom' futuro juiz, para além de outras 'qualidades' técnicas, é um indivíduo que consegue convencer (mesmo fingindo) os outros de que é honesto!
Tão grave e, sob determinados parâmetros, ainda mais grave, foi a posição da Direcção do CEJ, intolerável e laxista, uma vergonha para uma entidade cuja principal missão é a formação de magistrados, competindo-lhe assegurar a formação inicial e contínua de magistrados judiciais e do Ministério Público. Numa primeira decisão, a direcção do CEJ decidiu, por unanimidade , "anular o teste em causa, atribuindo a todos os auditores de Justiça a classificação final de dez valores", sendo esta considerada "a solução mais equilibrada... [pois] já havia outros exames marcados, o que impedia a repetição d[o] teste".
A atitude desculpabilizante por parte de alguns elementos da direcção da escola, alegando tratar-se de uma "situação pontual" motivada pelo "tipo de teste - modelo americano (de cruzes) " é má de mais, mesmo à luz dos nossos 'brandos costumes'. Mais um pouco, o erário público vai ter de indemnizar os prevaricadores por os ter sujeitado a um (tipo de) teste que os levou a (inadvertidamente) 'exteriorizar' a parte desonesta dos respectivos caracteres que tão diligente e arduamente tentavam combater... "e o burro sou eu?"
Nunca como agora me parecem tão actuais os 'lamentos' (de há quase 30 anos atrás) de uma dupla inesquecível de actores/humoristas portugueses (Ivone Silva e Camilo de Oliveira):
"- Aí Agostinho.
- Aí Agostinha.
- Que rico vinho.
- Vai uma pinguinha.
- Este país perdeu o tino.
- A dar ao fino, a dar ao fino.
- Este país é um colosso.
- Está tudo grosso, está tudo grosso.
- Anda tudo a fazer pouco...da gente. Anda tudo a fazer pouco... da gente."