Henrique Santos, Visão on line,
É muito raro assistir à abertura de um qualquer jornal teledifundido nos dias que correm, mas tive o azar de presenciar a notícia de abertura de um dos que começa às 20:00 horas num dos nossos canais generalistas.
Não precisou de passar um minuto para o jornalista ter encontrado o dilema das portas do Ministério das Finanças: Por onde teria entrado a equipa do FMI no edifício? Como poderão perceber, logo no segundo dia, o FMI fazia jus ao nome (Fomos Mais Inovadores) e escolheram outra porta de entrada que não a principal. Esta foi a mensagem que me ficou da notícia, mas também não terminei de a ouvir.
Como não resido em Lisboa, fui até ao computador indagar por quantas portas pode a equipa do FMI ainda entrar. Foi uma verdadeira aventura, que acredito também o FMI esteja a viver com emoção.
Quando este texto for publicado, é muito provável que o chefe de equipa do Fundo Monetário Internacional já esteja em Portugal. Agora imaginem o regabofe que não vai ser a sua entrada no mesmo edifício. Já estou a imaginar os sorrisinhos maquiavélicos da restante equipa com o caloiro que chega, os funcionários do Ministério sequiosos de assistir à chegada triunfal do Dinamarquês (se não me falha a memória), e os jornalistas aguados de informação (como vem vestido?, quantos passos vai dar entre o hotel e a entrada do Ministério das Finanças?, que tipo de mala traz?, serão exemplos de questões que não deverão ficar sem resposta).
Certamente estão preparadas excursões para assistir às entradas e saídas das equipas do FMI, do BCE e da Comissão Europeia, e, depois da barraca instalada, vamos todos à festa!
É admirável a “não informação” produzida. Na realidade, neste caso, o jornalista relata um facto, isento de subjectividade, disso ninguém o pode condenar (qualquer coisa como “…a equipa chegou, entrou pela porta, não os vimos sair, blá, blá, blá, blá…”), é um facto. A importância desse facto, ainda mais na abertura de um jornal teledifundido em horário nobre, é que me deixa dúvidas.
Mas afinal quem são, tecnicamente, estes “marmanjos”, porque vieram cá? vêm ajudar-nos?, são polícias, juízes?, porquê tanto medo?, são os “bichos-papões”?, vêm ver se houve FRAUDE?, vêm trazer dinheiro?, vão obrigar-nos a trabalhar? (Oh diabo!…)
Na verdade desconhecemos tudo, o que nos chega é um conjunto de informação pouco credível, aos retalhos e ainda por cima somos iletrados em economia (desculpem mas é verdade), e o que assistimos na maioria da informação (muitas vezes sem culpa dos jornalistas) e dos discursos políticos é verdadeira fraude de informação e contra-informação, e tudo é tão mais simples, se pensarmos no equilíbrio das contas na nossa casa, e como conseguimos fazer face aos nossos compromissos, tendo em conta o nosso rendimento. E se são cumprirmos com os nossos compromissos o que acontece? (a resposta a esta questão responde a um dos problemas centrais, e não precisamos de ser economistas para sabermos responder correctamente à questão).
Muito provavelmente, numa folha formato A4, os nossos responsáveis políticos seriam capazes de explicar a todos os portugueses a nossa real situação, e, mesmo sendo iletrados em economia, perceberíamos a explicação muito facilmente, pois só se torna iletrado em economia, quem à sua frente tiver um explicador que não seja capaz de simplificar a informação, ao ponto de ela ser inteligível.
A culpa é muito nossa porque achamos que a economia é de elite e inacessível, é também muito de quem a divulga, porque é demasiado tecnicista nas expressões e de quem a não ensina nas escolas, por não estar prevista nos curricula, mas quando nos chega aos bolsos, acreditem que rapidamente percebemos a dimensão do problema, e somos capazes de construir uma opinião crítica e responsável, coisa que alguns políticos, mesmo que pretensamente dominem mais os conceitos da economia, parecem não ser capazes de fazer.
Formação e Informação procura-se! Também se pode aprender com os erros (disso estamos mais certos do que nunca), mas essa deve ser a última forma de aprendizagem, porque os erros, esses, sabemos que se pagam muito caros.
Descobri que, oficialmente, existem quatro portas no Ministério das Finanças, mas estou convencido que devem existir umas quantas “portas dos fundos”. Independentemente do que esta última expressão queira dizer, o dilema continua!