António João Maia, OBEGEF

O contexto de indefinição, instabilidade e incerteza que temos vivido em Portugal e na Europa por estes meses pode caraterizar-se também como um verdadeiro e autêntico “Verão Quente”

...

O Verão político que se viveu em Portugal em 1975, faz agora 40 anos, ficou conhecido como o “Verão Quente”.

As forças políticas, sobretudo das alas mais radicais da esquerda e da direita, defrontavam-se nas ruas, das mais diversas formas. Desde a realização de grandes manifestações até, sobretudo em Lisboa e no Porto, à concretização de ações intimidatórias e violentas, como assaltos e destruição de instalações de partidos políticos e mesmo a concretização de atentados bombistas e assassinatos. O pais viveu verdadeiramente dias de grande sobressalto, com contornos próximos de um contexto de guerra civil, e que acabou por ser travado pelos militares a 25 de novembro desse mesmo ano.

A conflituosidade então gerada tinha fundamentos políticos. Associava-se muito a formas de pressão sobre os trabalhos que se desenvolviam na Assembleia Constituinte, que, em abril desse ano, fora eleita pelo povo português com esse propósito, e que conduziram à produção e aprovação, a 25 de abril de 1976, da formulação base da Constituição da República portuguesa que hoje conhecemos.

Por razões muito distintas, julgo que podemos considerar que o contexto de indefinição, instabilidade e incerteza que temos vivido em Portugal e na Europa por estes meses pode caraterizar-se também como um verdadeiro e autêntico “Verão Quente”.

Desde logo e em termos sociais, a manutenção de elevadas taxas de desemprego jovem, que têm produzido o efeito perverso de atirar para fora do país os mais jovens depois de terminarem a sua formação nas universidades portuguesas.

Depois, em termos de funcionamento do sistema bancário e da sua credibilidade, o caso, com contornos fraudulentos e criminosos ainda não totalmente conhecidos, que esteve na base da queda do BES e, pior, da perda das economias de toda uma vida de muitos dos nossos concidadãos.

Por outro lado, em termos políticos, o processo judicial por suspeições de práticas de corrupção envolvendo a pessoa e a governação do ex primeiro-ministro, que se encontra inclusivamente em situação de prisão preventiva, com os efeitos perversos que se adivinham sobre a campanha eleitoral e os resultados da próxima votação das eleições legislativas.

Surgem também, de modo incontornável neste contexto, os contornos do processo de privatização da TAP, que se encontra agora numa fase particularmente quente, depois de uma greve de 10 dias dos pilotos, que, ao que se diz, provocou um rombo de dimensão considerável sobre o real valor da companhia.

E em termos do contexto Europeu, que é também de importância crucial para o nosso país, que dizer da situação cada vez mais complexa da Grécia e das tensões que se têm gerado, sobretudo nas relações com os principais países e entidades credoras, como a Alemanha, a Comissão Europeia, o FMI ou o BCE?

Enfim o contexto social, económico e político deste Verão é verdadeiramente um contexto muito complexo e com uma grande carga de incerteza. É por isso um contexto de “Verão Quente”.

E é de tal modo complexo e quente que até Jesus se mudou do Benfica para o Sporting...