Henrique Santos, Visão on line,

A pressão de desejar que alguém lesse esta crónica, que decorre da oportunidade de estar a escrever nesta secção da visão on-line, e racionalizado na importância do que escrevo (que de resto não vale mais do que lhe atribuírem), justificaram este título quiçá fraudulento. Mas consegui trazer o leitor até mim, por isso valeu a pena (mais uma racionalização)!
De facto, a primeira ideia que me ocorreu com um título destes, no actual contexto político, e numa crónica sobre gestão de fraude, foi que podia ter um efeito perverso. No entanto não é isso que pretendo (é que começo a ter a mania de tentar simplificar as coisas ao máximo). Vão perceber porquê.
Para explicar o contexto em que a fraude surge, existe sempre um quadro situacional que justifica o seu cometimento. Esse quadro está intimamente ligado ao modelo do Triângulo da Fraude, desenhado por Donald Cressey, capaz de nos surpreender (na crónica desta secção de 24 de Setembro de 2009, da autoria de António João Maia, encontra-se plasmado e explicado este modelo de forma exemplar).
No seio deste modelo, em poucas palavras, pode dizer-se que quem comete fraude o faz sob a égide desse triângulo que o perseguirá para sempre, tal e qual as iniciais de Jesus Cristo na cruz. Assim, se alguém cometeu fraude, foi porque alguma pressão teve para a cometer (a "fome" com que estava), a oportunidade surgiu (não estava ali ninguém para ver), e o processo de racionalização aconteceu (se eu não tirasse dali o "presunto" ainda se estragava, assim comi-o). Ora, são justamente estes, os três vértices do triângulo: Pressão, Oportunidade e Racionalização. Saliento que, se colocarmos a segunda parte deste parágrafo no tempo verbal futuro, podemos, como facilmente se conclui, ter uma ferramenta que, além de detectar e combater, também permitirá controlar e prevenir a fraude.
Assim, falar em José Sócrates nesta altura do campeonato, numa secção tão sui generis como esta, traz as suas vantagens (ainda que o meu objectivo esteja longe de o condenar ou ilibar; não tenho, de todo, matéria, nem competência, para tal). E porque estamos num campeonato político onde não se marcam golos para Portugal, podia ser tentado a dizer: "Deixem jogar [Governar] o Sócrates"! Assim, talvez conseguisse o apoio do conjunto dos seis milhões de portugueses de que tanto se fala, afinal José Sócrates foi vítima de fraude!
Pense comigo. Quem elegeu o actual Primeiro-Ministro, sob a perspectiva do modelo de Crassey, cometeu fraude com José Sócrates: Com a pressão de ter de se eleger "alguém", com a democrática oportunidade que lhe foi dada para o fazer (as eleições), logo racionalizou (são todos iguais), e votou nele. Que maior finta podia o eleitorado cometer para com Sócrates! Agora, quero ver como se vai safar.
O pior, é que a fraude foi cometida contra a própria instituição de que fazemos parte (Portugal). Será que alguém deu um tiro no próprio pé?
E o próprio José Sócrates, pela oportunidade que lhe deram de governar (resultado das eleições), também vive sob uma enorme pressão (tem de fazer, mas… se faz, é porque faz mal, se não faz, é porque não faz), que agora, mais do que nunca, está capaz de racionalizar (já que fico com a fama…)! Pelo sim pelo não, o ideal é evitarmos que o presságio do Triângulo se cumpra. É que eu já fiz o teste, e Ele está em todas!
Simplifiquei de mais?