Fernando Costa Lima, Visão on line,
A corrupção e o crime económico não se conseguem medir. Significa isto que não há uma ideia da verdadeira dimensão do problema.
O que existe são percepções. As pessoas pensam que há corrupção generalizada, ou porque já tiveram que pagar uma "gratificação" para um assunto "burocrático" se resolver mais rapidamente ou porque alguém disse, à mesa do café ou no autocarro, que "todo e qualquer político é corrupto".
Por isso mesmo quando se fala do posicionamento de Portugal no ranking da corrupção, fala-se de um índice de percepções e não de uma medida, mais uma vez, da verdadeira dimensão do problema.
Como tem evoluído precisamente o "Corruption Perceptions Index" publicado anualmente pela Transparency International, em relação a Portugal?
Dito da forma que mais leva a opinião pública a pensar que a corrupção (e consequentemente o crime económico) se tem agravado em Portugal: PORTUGAL CAIU 14 LUGARES NO RANKING DA CORRUPÇÃO EM 10 ANOS.
Dada a forma como o índice e o ranking são calculados pode bem dar-se o caso de um determinado país cair no ranking e, mesmo assim, o índice de percepção ter melhorado.
O que quero dizer com isto é que o índice de percepção para Portugal não piorou tanto quanto a queda no ranking pareceria indiciar.
Esta conclusão mais ou menos "académica" pouco importa para aquilo que verdadeiramente é importante: a "percepção" da corrupção (e do crime económico) é o que verdadeiramente mina as fundações de uma sociedade.
Apenas a título de exemplo: qual é o cidadão que sente um "impulso" para ser correcto e honesto se pensar que "os corruptos e os malandros" continuam impunes?
O que é então necessário fazer?
No meu entender é preciso uma nova abordagem, uma nova perspectiva.
Em primeiro lugar, e numa perspectiva de curto prazo, os cidadãos só deixarão de pensar que os corruptos se mantêm impunes no dia em que houver condenações. Isto é, no dia em que houver resultados efectivos. E não se pense que um sucedâneo das condenações são as notícias de "alguém foi acusado" ou até as notícias de que "alguém está a ser investigado" com todos os detalhes que, perante a opinião, essa pessoa já está condenada. Este caminho é um péssimo serviço à sociedade e não estou aqui a condenar os jornais e os jornalistas que apenas escrevem o que se lhes diz e o que se lhes conta. Não me parece que o problema esteja também nas leis e nos meios (ou a falta deles), como tantas vezes se ouve. Muito menos se resolve o problema com seminários, palestras e entrevistas. Sou um grande adepto e cada vez estou mais convencido que, nestas matérias e muitas outras, é preciso falar menos e fazer mais.
Em segundo lugar, e numa perspectiva de médio prazo, penso que é preciso fazer algo em termos de educação, em termos de incutir aos nossos jovens os valores eternos de uma sociedade civilizada: a ética, a integridade, a responsabilidade, o respeito pela lei, o respeito pelos direitos dos outros, o amor ao trabalho, a pontualidade, o esforço pela poupança, o desejo de superação.
Mas este poderá ser o tema para uma próxima crónica.