João Pedro Martins Jornal i
O luxemburguês Jean-Claude Juncker, um dos gurus da pirataria fiscal, é o sucessor de Durão Barroso. O novo dono da cadeira da presidência da Comissão Europeia não é apenas uma má opção política para dirigir os destinos da Europa, é o pior que nos poderia acontecer.
Esta negra realidade é uma certeza de que a Europa vai continuar a seguir o caminho da austeridade para os pobres e da prosperidade para as elites corruptas que não gostam de pagar impostos e escondem o dinheiro em paraísos fiscais.
Uma investigação realizada pelo jornal britânico The Guardian e pelo programa Panorama da BBC, mostra que Juncker passou a vida a transformar a sua terra natal num dos maiores paraísos fiscais do planeta, contribuindo para uma sociedade mais desigual.
Juncker vai estar à frente da Comissão Europeia ao mesmo tempo que está envolvido numa ação legal contra o regime fiscal que criou no Luxemburgo. Juncker vai supervisionar uma investigação que incide sobre negócios em que ele próprio insistiu que deveriam permanecer ocultos, quando era primeiro-ministro do Luxemburgo.
Esta estirpe de políticos não é confiável. Em 1516, Sir Thomas More escreveu: “Em todo o lado tenho a sensação de que existe uma conspiração de homens ricos que procuram o benefício pessoal.” Ainda estávamos longe da existência do Clube de Bilderberg e dos encontros secretos da alta finança, mas as palavras proféticas de Thomas More cumpriram-se integralmente.
Juncker foi primeiro-ministro do Luxemburgo entre 1995 e 2013 e transformou um grão-ducado arcaico num dos principais paraísos fiscais, onde as fundações e as holdings intermediárias proliferam como cogumelos escondidos numa floresta para fugir aos impostos e ocultar os donos do dinheiro. Foi neste território offshore,que beneficia de livre circulação de capitais dentro da União Europeia, que o esquema Ponzi desenhado por Bernie Madoff encontrou a opacidade e a segurança que empurraram milhares de investidores para a miséria.
Juncker e a sua tralha de correligionários são verdadeiros piratas e terroristas fiscais. A única diferença em relação aos piratas do passado que usavam espadas e canhões é que os junckers escolhem os contabilistas, os maiores escritórios de advogados e as empresas-fantasma para saquearem a sociedade.
Juncker é como o BES, mostra os trunfos para atrair os pequenos investidores e joga com cartas viciadas debaixo da mesa para beneficiar os amigos ricos. Ele sabe que em Portugal tem muitos admiradores, desde Alberto João Jardim a Cavaco Silva, e seguidores fiéis, como o aprendiz Pedro Passos Coelho.
Mas o plural de Juncker não se pode confundir com Junckers. Ao contrário da marca de esquentadores alemã que durante anos aqueceu a água que chegava às nossas casas, os junckers portugueses não são de confiança porque não aquecem o país. São glaciares que congelam a economia.
Os junckers não são reformadores, nem estadistas. O seu objetivo é sequestrar a economia e transformar os países periféricos da União Europeia em paraísos fiscais para que os ricos e as multinacionais não paguem impostos, obrigando a mão de obra barata a sujeitar-se às regras ditadas pelos países do Norte da Europa.
O junckers não vieram para salvar a Europa, nem restaurar o sonho europeu da democracia plural, da igualdade de oportunidades e da solidariedade. Eles são mercenários que vieram apenas para ganhar dinheiro, nem que para isso seja necessário roubar e matar.