Aurora Teixeira, Visão on line,

“A fraude é a filha da ganância.” (Jonathan Gash, The Great California Game)
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Médico é das profissões mais valorizadas em Portugal. Dos médicos espera-se um comportamento ético irrepreensível, que coloquem o paciente no centro das suas atenções.

É certo que alguns destes profissionais levam esta missiva ao extremo… A preocupação é tanta que alguns médicos, com a preciosa colaboração de alguns farmacêuticos (tipo médiuns), continuam a prescrever receitas a pacientes já finados. Afinal ninguém sabe o que está para além desta vida terrena, pode sempre fazer falta um Ben-u-ron, Xanax ou quiçá Viagra…

Aparentemente com maior intensidade a partir de 2012 (a ‘culpa’ é da Troika!), o Ministério de Paulo de Macedo tem tentado pôr cobro a esta ‘paranormalidade’ do sistema de saúde português. Sem grande sucesso, contudo.

Pode parecer difícil, mas os custos com o ‘sobrenatural’ no sistema nacional de saúde escalam a uma taxa muito superior à dívida pública portuguesa: em 2012 estimavam-se em 25 milhões (1), em 2013 já ultrapassavam os 130 milhões de euros (2) e, segundo os valores mais recentemente divulgados (fevereiro 2014), estão a ser investigadas ‘paranormalidades’ no sector no valor de 200 milhões de euros, podendo os custos com tais fenómenos ascender, em Portugal, a 2 mil milhões de euros. (3)

Depois da onerosa (para o erário público, claro está!) transmutação de homens em lobos no sector bancário português, que ascenderam quase a 5 mil milhões de euros (4), as prescrições-fantasma colocam Portugal numa assombrosa ‘Twilight Zone’.

Parece aqui adequada a afirmação de Art Bell: “eu acredito no paranormal pois há coisas que nosso cérebro simplesmente não consegue entender”. É difícil, de facto, para o ‘comum dos mortais’ entender como é que estes ‘mil milhões’ de custos para os contribuintes portugueses não ‘teleportam’ estes ‘briosos’ profissionais para o xilindró, à mesma velocidade com que alguns cursam da política para a banca.

A fraude, na sua maior parte, é um crime de estilo de vida. Para muitos (médicos, farmacêuticos, banqueiros envolvidos nas ‘paranormalidades’ e ‘transmutações’ acima descritas) trata-se de ‘manter as aparências’, viver um estilo de vida opulento. Não é sobre a ‘necessidade’ - é sobre a ‘ganância’.

Notas:
(1) http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=3141578
(2) http://www.publico.pt/sociedade/noticia/fraudes-na-saude-ultrapassam-os-130-milhoes-de-euros-1599838
(3) http://www.ionline.pt/artigos/portugal/paulo-macedo-fraudes-na-saude-custam-dois-mil-milhoes
(4) http://www.dinheirovivo.pt/economia/interior.aspx?content_id=3900164