António João Maia Jornal i
“Só há dois tipos de pessoas: as que sim, e as que também…” é a forma como uma amiga costuma resumir as duas categorias em que, segundo ela, se pode catalogar o perfil evidenciado pelas pessoas.
As pessoas “que sim”, como ela própria refere, são as que evidenciam, acima de tudo, sinais de serem merecedoras de elevada confiança – incluí neste grupo os amigos, alguns familiares e colegas de trabalho. Quanto às pessoas que caracteriza como“as que também”, refere serem aquelas relativamente às quais, por razões mais ou menos claras, por vezes decorrentes de situações vividas, sente menos afinidade ou que evidenciam sinais de merecerem menos confiança.
Apesar de demasiado simplista – o mundo dos homens não será assim tão dicotómico – confesso que sempre considerei esta segmentação interessante e curiosa. Por isso decidi trazê-la aqui para partilhar algumas reflexões que possam fazer-se relativamente às relações que as pessoas estabelecem umas com as outras.
Em primeiro lugar julgo poder aceitar-se como válida a percepção de que, nesta categorização, cada sujeito se considera e avalia a si próprio como uma pessoa sim – apesar de termos maiores ou menores índices de autoconfiança e de estarmos mais ou menos conscientes disso, sabemos, sobretudo pela nossa experiência de vida, quais são as nossas potencialidades e vulnerabilidades e aprendemos a dominar minimamente os efeitos resultantes desses limites. Nessa medida – e também por uma questão de sobrevivência do ego – confiamos, ainda que por vezes de modo inconsciente, em nós próprios. Por outras palavras, se avaliássemos uma comunidade a partir da auto-avaliação dos sujeitos, provavelmente iriamos encontrar apenas e só pessoas que sim.
Todavia não vivemos isoladamente. Somes seres gregários e, nessa medida, relacionamo-nos uns com os outros. No contexto destas relações, desenvolvemos laços que compreendem, de entre outros aspectos, a construção de uma certa imagem do outro. E é precisamente neste âmbito que se desenvolve a segmentação de que fala a minha amiga. É no relacionamento com o outro que cada sujeito tem a oportunidade de fazer uma avaliação e catalogação dos sinais que colhe. Se esses sinais induzem e reforçam a confiança, provavelmente a avaliação faz-se no sentido de se tratar de uma pessoa que sim –“Este tipo parece fixe. Gosto do modo simples como se apresenta e fala das questões. Não tem manias de superioridade”–. Porém, se os sinais colhidos vão em sentido oposto, nomeadamente se não potenciam a confiança, o sujeito será provavelmente catalogado como uma pessoa que também – “Não gosto deste individuo. Está sempre com uma pose altiva. Julga-se dono do mundo”.
E neste jogo de percepções, que está mais próximo da ilusão do que de uma realidade propriamente dita, pode gerar-se – e gera-se! – todo um leque de situações distintas: as relações de confiança sinceras e fortes, em que cada sujeito não tem dúvida de que o outro é uma pessoa que sim; as situações em que nenhum dos sujeitos confia no outro, ou seja em que ambos consideram o outro como pessoa que também; e os casos em que apenas um dos sujeitos confia no outro e portanto não há reciprocidade de confiança.
E neste contexto olhamos para o autor da fraude. É que ele tende a ser o sujeito que, de modo estratégico, por vezes com grande frieza e astúcia, selecciona e analisa previamente as suas vítimas, junto das quais emite sinais (erróneos) capazes de induzir os índices de confiança necessários para a concretização do seu plano fraudulento.