João Perdro Martins, Jornal i

Mais que ministro das Finanças, Gaspar foi um moço de recados da troika, que  agora recebe a recompensa como bom aluno e autor do "enorme aumento de impostos"

 

A situação explosiva que se vive na Ucrânia tem dominado a atenção da imprensa internacional. Uma das notícias dá-nos a conhecer a história de um grupo de jornalistas de investigação que conseguiu recuperar milhares de documentos secretos que revelam o modus operandi do presidente deposto. Viktor Ianukovich tinha uma vida sumptuosa alicerçada em práticas de corrupção com ligações à oligarquia russa.

Uma equipa de mergulhadores recuperou 57 pastas com mais de 100 000 documentos que tinham sido atirados para um lago próximo da luxuosa propriedade de Ianukovich, situada num bairro histórico nos arredores de Kiev.

Os jornalistas estão a secar e a digitalizar os documentos que foram descobertos e a carregá-los na internet para que todos possam ver. Voluntários ofereceram secadores e scanners para que os documentos estejam ao alcance de um simples clique em qualquer parte do planeta. O caso já é conhecido como YanukovychLeaks e levou milhões de pessoas de todo o mundo a visitar a página na internet.

Um dos documentos em destaque é uma carta de uma instituição de caridade da família Ianukovich, remetida ao Sberbank, o maior banco da Rússia com participações importantes na Ucrânia, em que é solicitada a transferência de três milhões dólares, referente a uma doação, através do Banco de Nova Iorque. Esta prática é semelhante à usada pela elite corrupta angolana para desviar fundos públicos.

Ianukovich desapareceu da Ucrânia, mas antes disso já tinham desaparecido muitos milhões que pertencem aos contribuintes ucranianos e que se encontram escondidos em empresas-fantasma que o regime cleptocrata criou em vários paraísos fiscais.

Mas se na Ucrânia eram os governantes corruptos que controlavam o submundo do crime organizado, em Portugal são os membros do governo que se limitam a fazer o papel secundário de testas-de-ferro de uma elite corrupta que capturou a economia e o poder político.

O caso dos submarinos que condenou figuras públicas na Alemanha e na Grécia, e que em Portugal foi branqueado através de um estranho processo em que os tribunais não encontraram culpados, é um exemplo de como os nossos governantes são diligentes no cumprimento de ordens provenientes do exterior.

Outro caso que ilustra a promiscuidade entre o mundo da política e a alta finança é a nomeação do ex-ministro Vítor Gaspar para um alto cargo no FMI. Mais do que ministro das Finanças, Gaspar foi um moço de recados da troika, que  agora recebe a recompensa como bom aluno e autor do “enorme aumento de impostos”.

A decisão do Estado português ao recomendar a integração da Guiné-Equatorial na CPLP, é algo politicamente macabro, se considerarmos a entrada de capital guineense no BANIF. Rui Machete não pode ignorar a vergonha que fez passar o país por dar cobertura a um regime corrupto que promove o tráfico de droga.

Na Guiné-Equatorial o povo vive na miséria, enquanto Teodorín, o filho do ditador Obiang, ocupa o cargo de segundo vice-presidente. Teodorín possui, entre outras excentricidades, uma mansão nos EUA, avaliada em 35 milhões de dólares, e foi alvo de um mandado internacional por suspeitas de lavagem de dinheiro.

Se Teodorín trabalhasse o resto da vida como ministro, precisaria de 500 anos para comprar a propriedade de 16 hectares que possui na praia californiana de Malibu. A vida de ostentação deste playboy africano inclui um jato privado, no valor de 33 milhões de dólares, uma coleção de carros de luxo, um iate com um tanque de tubarões, e muitos outros brinquedos dignos de um verdadeiro criminoso.