João Pedro Martins, Visão on line,

O país está cada vez mais distante das pessoas, do mundo e do futuro.
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Tenho saudades de Portugal. E ainda não emigrei.

O país está cada vez mais distante das pessoas, do mundo e do futuro.

Tenho saudades dos marinheiros que descobriram novos mundos e tiveram coragem para vencer piratas e lendas antigas.

Tenho saudades de homens como D. Afonso Henriques que soube lutar para conquistar um país livre e independente. De políticos como o marquês de Pombal que teve arte e engenho para reerguer Lisboa quando o país ainda tremia de medo do terramoto e viu nas dificuldades uma oportunidade para reformar a administração pública.

Tenho saudades dos fundadores do partido republicano que eliminaram um rei fantoche e substituíram uma monarquia podre por uma democracia nova.

Tenho saudades de todos os que lutaram para libertar o país dos regimes de escravatura, de ditadura e empobrecimento da sociedade.

Tenho vergonha de um rei que fugiu para o Brasil e destes ministros e secretários de Estado que ainda usam chucha e acabaram de sair do infantário para o governo e tratam os portugueses como se fossem bonecas Barbie ou soldadinhos de chumbo.

Tenho vergonha de que aqueles que dizem que são os melhores se escondam do povo e vivam na sombra das teias do tráfico de influências sem darem a cara, nem um cêntimo, por um país falido.

Tenho vergonha de viver numa república que tem um paraíso fiscal numa ilha que dá abrigo a terroristas e mercenários económicos e promove a batota dos impostos, onde as mafias russas, italianas e angolanas se acotovelam nesse ninho de corrupção e do crime organizado que impunemente lava dinheiro a céu aberto.

Tenho saudades de uma revolução pacífica e reformista, mesmo que se tenha de dar uns tiros numa perninha ou cortar uma mãozinha de um governante corrupto.

Tenho saudades de uma democracia onde todos contem e todos participem. De gente honesta, competente e sem medo de se chegar à frente e enfrentar as adversidades.

Tenho saudades de os sonhos das crianças voltarem a ser a esperança dos idosos. De uma sociedade solidária, onde a lei não seja a do mais forte, mas a mais justa.

Mais do que saudades do meu país, tenho a certeza de que isto não fica assim. Não pode ficar.

Tenho a certeza de que vamos dar a volta e expulsar os políticos tóxicos que nos governam e nos cospem na cara enquanto vendem o país ao desbarato.

Tenho a certeza de que um dia vamos criar empregos para que os jovens não precisem de correr mundo e possam trabalhar no país onde nasceram. Que voltaremos a ter estadistas na política e uma democracia saudável. Que todos os impostores, corruptos e incompetentes serão impedidos de exercer cargos públicos e corarão de vergonha sempre que os seus nomes forem lembrados.

Tenho a certeza de que um dia deixaremos de nos lamentar e teremos orgulho em todos os eleitores porque não se esquecem de votar no dia das eleições e pagam os seus impostos.

Mas enquanto as saudades se misturam com os sonhos não nos podemos resignar e permitir que um presidente da República aproveite a presença na cerimónia fúnebre de um estadista internacional para prestar vassalagem à elite corrupta angolana que está a colonizar a nossa economia, enquanto os processos judiciais são estranhamente arquivados.

O problema do país não é uma questão de alternância democrática. É de carácter.

E o carácter não se muda com eleições, mas com justiça.