António João Maia, [types field="pub" class="" style=""][/types],

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A grande maioria das notícias prefere evidenciar as lógicas de guerrilha discursiva, os arremessos de culpas entre os líderes

Nas últimas semanas temos sido autenticamente bombardeados com notícias acerca dos contratos swap, sem que verdadeiramente nos informem do que sejam, porque foram opções utilizadas, o que significam e o que significaram enquanto actos de gestão pública, entre muitas outras questões que me parece carecem de esclarecimento.

É verdade que nesta vaga de notícias, por vezes lá vem uma ou outra que, apesar de tudo, procura trazer alguns raios de luz explicativos. Dizem--nos, por exemplo, que foram um recurso utilizado para garantir a fixação de taxas de juro de empréstimos de dívida pública contraídos em contextos de crescimento contínuo dessas taxas. Porém e tendo ocorrido precisamente o contrário das expectativas (a queda das taxas de juro), a prevalência dos contratos tornou-os gravosos para o Estado, um factor de agravamento do défice público. Esta explicação faz algum sentido, porém, é bom de ver, carece de maior concretização?

Mas a grande maioria das notícias prefere evidenciar as lógicas de guerrilha discursiva, os arremessos de culpas entre os líderes, e seus correligionários, dos partidos políticos que estiveram e estão directamente envolvidos na governação do país e na gestão do Estado e da administração pública. Prefere-se centrar o discurso em pormenores que, apesar de terem a sua importância natural, não são, nem de longe nem de perto, as questões centrais. Em vez de cuidarem do esclarecimento do cidadão acerca das decisões tomadas e das motivações que as originaram, dão preferência a elementos como saber se a ministra foi ou não informada acerca da existência destes contratos, se o secretário de Estado esteve ou não ligado às propostas e às negociações de alguns deles, mas tudo sempre segundo uma lógica do "diz que disse", do "parece que disse", do "já não recorda" e o cidadão a ficar cada vez mais na mesma, ou seja, sem perceber do que se está a falar?

Aliás, as abordagens anteriormente efectuadas sobre os contratos das parcerias público-privadas" (as também célebres PPP) ou o "buraco do BPN", para citar apenas dois casos, tiveram ou têm tido um tratamento mediático em tudo semelhante?

Criam-se autênticas nuvens de (des)informação que obstaculizam a transparência com que estas questões merecem e devem ser abordadas. Ninguém - sobretudo quem nos governa - pode perder de vista que são as pessoas - somos nós todos! - que têm de suportar os custos inerentes a todos estes actos de gestão pública, de todos estes contratos, de todas estas decisões? É também para fazer face a estes custos que nos têm vindo a ser exigidos "enormes" sacrifícios?

Por outro lado, enquanto nada se alterar neste domínio, corremos o grave risco de ver tudo e todos metidos dentro do mesmo saco, sob o mesmo rótulo de incompetência, fraude e corrupção - é assim que os estudos de opinião têm revelado a percepção dos portugueses da sua classe política -, o que, com alguma probabilidade, é injusto e muito negativo para a reputação, se não de todas, pelo menos de algumas destas pessoas.

Finalmente, a meu ver, o risco maior reside no potencial efeito de estes contextos contribuírem para afastar dos caminhos de futuras lideranças políticas aqueles que apresentem perfis de formação moral e ética de maior solidez, deixando assim os acessos mais facilitados para outros.