João Pedro Martins, Visão on line,
Alves dos Reis é considerado o maior burlão da História de Portugal. O resto são amadores que tentaram plagiar a obra de um artista inigualável.
Este humilde cidadão português, com apenas 18 anos já tinha falsificado o diploma do curso de engenharia passado pela Polytechnic School of Engineering, uma escola politécnica inglesa que nunca existiu em Oxford.
Sócrates e Relvas recorreram ao fator cunha para concluírem as licenciaturas, quando já tinham idade para serem avôs de Alves dos Reis. Além disso, ocupavam cargos políticos e limitaram-se a copiar, com mais de cem anos de atraso, uma ideia genial e ainda por cima sem a originalidade de escolherem a chancela de uma universidade com um nome pomposo, como Independent University of Lisbon ou Lusophone University.
Alves dos Reis, ao contrário dos banqueiros e dos políticos que lideraram Portugal nas últimas três décadas, não fez desaparecer dinheiro do erário público com destino a paraísos fiscais. Ele fez circular mais 200 mil notas de 500 escudos, quantia que na época correspondia a 1% do PIB português.
Alves dos Reis não falsificou notas de 500 escudos com máquinas tipográficas escondidas na cave de um prédio antigo. Ele falsificou assinaturas para conseguir de forma ilegítima que a Waterlow & Sons Limited, a casa impressora do Banco de Portugal (BdP), emitisse 200 mil notas de um lote não autorizado pelo BdP. As notas eram autênticas e tinham imprimido numa das faces a efígie do navegador Vasco da Gama.
Alves dos Reis, a partir do Banco Angola e Metrópole, queria controlar as ações do BdP, na época uma entidade privada. O seu erro foi a ostentação que despertou a curiosidade da imprensa e o ciúme de alguns magnatas e políticos do seu tempo. Em 5 de dezembro de 1925, quando Alves dos Reis tinha apenas 28 anos, o jornal O Século revelava a história e o burlão acabou na cadeia.
Alves dos Reis ainda chegou a orquestrar uma estratégia para ludibriar a acusação e conseguir enganar o juiz, mas depois de se converter na prisão à fé cristã protestante, e para desespero dos seus cúmplices, confessou todos os crimes, acabando por ser condenado a uma pena de 20 anos de prisão.
Alves dos Reis era o homem certo para renegociar com a troika. Mesmo que os técnicos do FMI não recuassem com a imposição de mais medidas de austeridade e os mercados financeiros não estancassem o fluxo das taxas de juros especulativos, ele arranjava um contrato com assinaturas falsificadas e mandava vir contentores cheios de notas de 500 euros para que Portugal voltasse a respirar saúde e alegria económica e social.
A grande diferença entre o caso Alves dos Reis e o escândalo do BPN é que o dinheiro não entrou no país, mas saiu dos cofres públicos sem que as provas do crime e os criminosos fossem identificados e condenados. Alves dos Reis confessou os crimes em tribunal. Quanto aos criminosos do BPN, duvido que algum dia o façam, mesmo que seja no confessionário secreto da Opus Dei ou da Maçonaria.
A burla das notas de 500 escudos abalou o sistema político e financeiro da época, enquanto casos como o BPN, a Universidade Moderna e os submarinos comprados aos alemães são pólvora seca que não atinge políticos e banqueiros no ativo.
O país não precisa de burlões, mas de ética e dinheiro.
O problema é que desapareceram as notas e as boas práticas, e ficaram apenas os burlões e os burlados.