Jorgge Fonseca de Almeida, Jornal i online

Historicamente os seguros sempre foram uma atividade económica que atrai a fraude como um poderoso ímã

Todos crescemos a ouvir histórias de industriais falidos que provocam incêndios disfarçados de desastres naturais para receber indevidamente avultadas indemnizações, de aristocratas falidos que fingem terem sido roubados das suas joias ou de objetos de arte, de automobilistas desonestos que simulam acidentes rodoviários para que a seguradora lhes pague a reparação do carro. Também ouvimos reclamações sobre as letras pequeninas dos contratos que excluem quase tudo e livram as seguradoras de pagar o que é devido aos segurados. É um mundo em que todos desconfiam de todos. Um mercado mal desenhado que funciona ao contrário da banca em que a confiança é a base do negócio.

Historicamente os seguros sempre foram uma atividade económica que atrai a fraude como um poderoso ímã.

Agora ouvimos uma nova história. Os factos são os seguintes:

  1. O cliente contrata um seguro de saúde;
  2. Quando precisa liga para um prestador de cuidados de saúde referenciado pela seguradora (um hospital, uma clínica, etc.);
  3. É informado que só há vaga daqui a muitos meses;
  4. Adicionalmente dizem-lhe que se não pretender usar a cobertura do seguro tem consulta no dia seguinte.

É uma situação que está banalizada, que é recorrente. A quem interessa?

  1. Ao prestador de cuidados de saúde porque irá receber mais do que receberá se o serviço for comparticipado pela seguradora (que negoceia preços mais baixos);
  2. Á seguradora que, se o doente tiver urgência, tem apenas um custo marginal (o da comparticipação fora da rede);

A quem não interessa? Ao doente que irá suportar um custo muito superior se optar pela consulta/tratamento imediato ou continuar a sofrer e a piorar a sua condição se optar por esperar os 6 ou mais meses.

Estaremos em presença de uma fraude? A atividade seguradora e a atividade de prestação de cuidados de saúde são atividades altamente reguladas. Há pois alguém (gente) que deve esclarecer esta magna questão. Que dizem os reguladores? Perderam o pio? Servem para alguma coisa? Investigaram?

Esperam-se respostas.