Jorge Fonseca de Almeida, Blog da Ordem dos Economistas 

O governo AD tem a oportunidade — e a responsabilidade — de deixar marca, não apenas pela governação corrente, mas por reformas que resistam a mudanças de ciclo e elevem o nível de vida da população.

 

Por isso, as crises económicas não caem do céu de forma súbita e abrupta. São sempre processos cumulativos que desembocam na retração económica. Existem sinais de alerta, indicadores avançados, bem conhecidos da ciência económica, que permitem prever o desempenho económico futuro.

Em Portugal, contudo, quer políticos quer comunicação social vivem num mundo de perpétuo otimismo, de expansão infinita, sempre com desempenhos passados acima da média e um futuro claro e brilhante pela frente. Cegos aos sinais, somos o país em que prospectivamente as crises surgem de repente, de surpresa, sem aviso e, claro, vindas de fora – os culpados são inevitavelmente os outros: a pandemia, o subprime americano, a guerra na Ucrânia, a guerra no Médio Oriente, a diminuição do poder de compra alemão, os crimes dos Espírito Santo, mas nunca por nunca devido à impreparação governamental da nossa economia para os choques que se avizinham. E com desempenhos tão bons é obra estarmos nos primeiros lugares de pobreza na Europa e em contínua aproximação à cauda do grupo. Somos sempre o que mais retrai e o último a recuperar. Por isso ficamos para trás.

Em contrapartida retrospetivamente, quando a crise rebenta, tudo era previsível e já esperado. Estas visões prospetivas (tudo vai bem) e retrospetivas (já se esperava) são um sinal claro da ignorância e do provincianismo lusitano. Os economistas têm aqui um papel importante na alteração dessa mentalidade tacanha.

Os indicadores avançados não são infalíveis, permitem desenhar cenários futuros e para cada um deles estabelecer as medidas a tomar para contrariar as previsões, para anular ou minimizar consequências, para melhor resistir às intempéries. Não fora isso, não serviriam para muito.

A economia portuguesa assenta em três pilares entrelaçados: o orçamento de Estado (fortemente condicionado por regras europeias e avalanches de fundos públicos da UE), as grandes empresas (a maioria estrangeiras) e as micro, pequenas e médias empresas (essencialmente portuguesas). O funcionamento desta tríade define as classes sociais existentes no nosso país, desde os operários fabris (hoje invisibilizados) até aos grandes capitalistas (atualmente absurdamente glorificados como os produtores de riqueza) passando por uma larga, diversificada e empobrecida classe de serviços e funcionários.

As grandes empresas estrangeiras conseguem antecipar e reagir aos indicadores avançados. Acabam por sair com sucesso e reforçadas das crises. As duas outras pernas da sociedade não reagem e acabam a perder. São o elo fraco da nossa resposta aos ciclos económicos.

Existe uma perceção errada de que se as pessoas forem avisadas da vinda de uma crise a sua reação torna a crise mais provável e mais profunda. É um erro. Se o Estado e as micro, pequenas e médias empresas estiverem informados eles procurarão resguardar-se das consequências mais dolorosas. Em conjunto podem, conhecendo as causas, evitar ou reduzir os efeitos. A informação é essencial numa economia de mercado excessiva e anacronicamente aberta ao exterior como a portuguesa.

Recentemente tivemos em Portugal o Professor Edward Altman, candidato ao Prémio Nobel da Economia, que nos veio falar do ciclo do crédito, como indicador avançado das crises económicas e como esse indicador se está a modificar em face das alterações dos processos de financiamento das sociedades, nomeadamente o crescimento do crédito concedido a empresas por fundos e outros atores não-bancos. Uma palestra muito interessante e de grande qualidade, organizada pela nossa Ordem. Parabéns ao nosso Bastonário por esta iniciativa.

Para o Professor Altman, olhando para o ciclo do crédito, vem aí uma nova tempestade, uma nova crise. É bom estarmos todos preparados.