Rute Serra

O OBEGEF – Observatório de Economia e Gestão de Fraude, participou recentemente numa reunião de alto nível com a Comissão Europeia, no contexto da preparação do Relatório Anual sobre o Estado de Direito (Rule of Law). A vogal Rute Serra representou o OBEGEF na reunião, onde partilhou uma análise crítica sobre a situação nacional em matéria de prevenção e combate à corrupção em Portugal, com especial foco no ano de 2024 e perspetivas para 2025.

Pontos principais abordados:

  1. Estratégia Nacional Anticorrupção:
    • A Estratégia Nacional Anticorrupção terminou em 2024 sem que tivesse sido avaliada a sua eficácia ou lançado um processo participativo para uma nova estratégia.
    • Foi apresentada uma “agenda anticorrupção” com medidas genéricas e sem implementação concreta, num contexto de mudança governamental.
  1. Funcionamento da MENAC:
    • A implementação da MENAC tem sido lenta, com problemas ao nível da gestão e ineficiente direção estratégica por parte do governo.
    • A anunciada reestruturação em fevereiro de 2025 foi rapidamente revertida, acentuando a perceção pública de desorganização e desinteresse político.
  1. Investigação de casos de corrupção de alto nível:
    • Persistem ineficiências nas investigações e nos tribunais, agravadas por atrasos e ausência de reformas estruturais na justiça.
    • A falta de interoperabilidade entre sistemas judiciais e organismos da administração pública continua a ser um entrave significativo.
  1. Integridade e fiscalização política:
    • O atual governo comprometeu-se a aprovar um plano de risco de corrupção, ainda inexistente.
    • Continuam a verificar-se dificuldades na fiscalização de conflitos de interesses e enriquecimento ilícito, bem como na regulação da transição entre cargos políticos e o setor privado (portas giratórias).
  1. Regulação do lóbi:
    • A legislação sobre o lóbi não foi concluída nesta legislatura, refletindo uma falta de vontade política real.
    • A ausência de regulação sustenta a opacidade nas relações entre interesses económicos e o poder político.
  1. Setores de alto risco – contratação pública e setor da defesa:
    • Um novo regime que dispensa a aprovação prévia do Tribunal de Contas para contratos com fundos europeus foi considerado um risco grave para a transparência.
    • Estão em preparação alterações ao Código dos Contratos Públicos na área da defesa, potencialmente aumentando o risco de corrupção.
  1. Recursos das Entidades Anticorrupção:
    • Enquanto a Entidade da Transparência denuncia a falta total de meios, a MENAC possui orçamento, mas não consegue cumprir eficazmente a sua missão devido a ineficiências variadas.

O OBEGEF reafirma o seu compromisso com o escrutínio rigoroso das políticas públicas anticorrupção e continuará a colaborar com instituições nacionais e europeias para promover a integridade, a transparência e o reforço do Estado de Direito em Portugal.