Óscar Afonso, Dinheiro Vivo

Portugal encontra-se num momento de encruzilhada económica, em que as previsões de crescimento para 2025 e 2026, embora positivas, revelam fragilidades estruturais que podem comprometer o futuro do país.

De acordo com projeções recentes, o crescimento do PIB deverá situar-se em torno dos 2% nesses anos, uma taxa ligeiramente superior à média da União Europeia (UE). Contudo, este desempenho é insuficiente para garantir uma melhoria sustentada do nível de vida relativo dos portugueses, já que outros países da coesão, como a Roménia, continuam a avançar a um ritmo superior. Segundo a Comissão Europeia, Portugal poderá cair para o sétimo pior nível de vida da UE em 2026, uma previsão alarmante que sublinha a urgência de reformas estruturais.

O panorama económico internacional também influencia as perspetivas nacionais. A OCDE projeta um crescimento mundial de 3,3% em 2025 e 2026, com o G20 a registar uma ligeira desaceleração para 3,2% em 2026. Entre os nossos principais mercados de exportação, Espanha e os EUA continuarão a ser os mais dinâmicos, embora a um ritmo inferior e com os riscos conhecidos para as exportações nacionais das políticas protecionistas de Trump, que já prometeu um aumento de tarifas à UE. A Alemanha, uma economia crucial para as exportações portuguesas, mostra sinais de recuperação, mas com taxas de crescimento tímidas de 0,7% em 2025 e 1,2% em 2026, que poderão ficar em causa se o referido aumento de tarifas for acentuado e em setores sensíveis para a economia alemã, o que afetará indiretamente o resto da UE, Portugal incluído. Diversificar mercados é crucial para reduzir dependências e impulsionar um crescimento sustentável.

Num horizonte de dez anos, as perspetivas são más se Portugal não mudar de políticas. A nossa taxa média anual de crescimento económico foi de 1% entre 1999 e 2023, um dos piores registos da UE. Esta tendência deverá manter-se até 2033, a menos que sejam implementadas reformas estruturais profundas. O crescimento económico acima da média da UE que Portugal registou nos últimos anos (entre 2019 e 2024, alisando os efeitos da pandemia e da guerra) é temporário, devendo-se ao ‘boom’ do turismo, já em abrandamento, e ao efeito dos fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que finda em 2026. A partir desse ano, o crescimento potencial anual de Portugal regressa abaixo da média da UE, caindo até um mínimo de 0,4% em 2032 (após 1,4% em 2026 e um máximo de 2,1% em 2024), segundo as projeções do Ageing Report de 2024 da Comissão Europeia.

A alternativa a este cenário base preocupante é adotar um conjunto de reformas que nos permitam atingir um crescimento de, pelo menos, 3% ao ano até 2033. Segundo um estudo da Faculdade de Economia do Porto (FEP), este ritmo permite a Portugal entrar na metade de países com maior nível de vida da atual UE em 2033 e estabilizar a população, que, sem reformas, poderá diminuir 5,8% até esse ano. Crescer 3% ao ano requer cerca de 138 mil imigrantes permanentes (oficiais) por ano, um número acima do máximo registado em 2022, segundo o estudo. A imigração surge, assim, como decisiva para o nosso crescimento económico, contrariando a emigração e o saldo natural negativo.

Entre os desafios estruturais a enfrentar, destacam-se a necessidade de reduzir a carga fiscal sobre empresas e famílias – o que pressupõe uma reforma profunda do Estado –, fomentar um ambiente propício ao investimento e melhorar o perfil de especialização da economia.

Portugal continua excessivamente dependente do turismo, um setor que, embora vital, não pode ser a única alavanca de crescimento, além de trazer desvantagens, como a pressão sobre as infraestruturas (como a habitação), serviços públicos e ambiente. A reindustrialização, aliada ao desenvolvimento de serviços de alto valor acrescentado, é essencial para aumentar a produtividade. A inteligência artificial, a robotização e a digitalização são instrumentos poderosos que devemos aproveitar para elevar a produtividade e a competitividade nacional, exigindo uma regulação equilibrada que promova inovação sem comprometer a segurança e os direitos dos cidadãos.

Outro problema estrutural que precisa de ser resolvido é a fuga de talento, sobretudo jovem. Cerca de um terço dos nossos jovens vive atualmente no estrangeiro, um fenómeno que compromete o futuro do país. A solução passa por aumentar os salários com base no crescimento da produtividade, proporcionando condições atrativas para que os jovens permaneçam em Portugal. Em paralelo, a atração de mão-de-obra qualificada do exterior deve ser encarada como uma prioridade.

A capacidade de estimular a poupança e o investimento também será determinante para um crescimento mais robusto. No caso das famílias, é fundamental reduzir a tributação sobre a poupança e promover uma maior literacia financeira. Já para as empresas (nacionais e estrangeiras), um ambiente fiscal mais favorável e a estabilidade regulatória e legal são decisivos para aumentar o investimento e a geração de lucro de forma sustentada. O combate à corrupção é também crucial, pois a erosão da confiança nas instituições prejudica a economia e afasta o investimento externo.

Na área da saúde, a necessidade de reforçar o Serviço Nacional de Saúde (SNS) é incontornável. O investimento e uma melhor gestão são fundamentais para repor a qualidade do SNS, que contribui para a produtividade dos portugueses e a sustentabilidade da economia. Os resultados serão ainda melhores se houver uma forte aposta na literacia e prevenção em saúde, com impacto na qualidade de vida dos portugueses e no envelhecimento ativo, que beneficia também a economia.

Por outro lado, há que aproveitar as oportunidades. Apesar de algumas limitações, o PRR continua a representar uma importante alavanca financeira, desde que os fundos sejam executados de forma eficiente. O Portugal 2030, o último grande pacote de fundos estruturais da UE, deve ser orientado para projetos que garantam maior produtividade e valor acrescentado nacional. O contexto geopolítico global abre também novas perspetivas para Portugal, nomeadamente através do nearshoring, trazendo atividades produtivas para mais perto da Europa, e do reshoring, com a recuperação de indústrias estratégicas para o país. Além disso, o país pode posicionar-se como um destino atrativo para o investimento direto estrangeiro no bloco das economias democráticas.

Portugal tem, assim, um caminho claro pela frente: ou aposta num conjunto de reformas estruturais que permitam crescer de forma sustentada e melhorar o nível de vida dos seus cidadãos, ou continuará a divergir dos parceiros europeus, tornando-se cada vez mais periférico. O desafio é similar ao da UE, que arrisca a irrelevância económica e geopolítica na nova ordem mundial emergente sem medidas urgentes para recuperar a competitividade. Portugal deve fazer o que lhe compete e não estar à espera que a UE resolva os seus problemas, como tem sucedido, precisando de reformas cruciais para que a economia possa crescer mais e de forma sustentada com menos apoios europeus a partir de 2026. As escolhas feitas nos próximos anos determinarão se o nosso país se posiciona na linha da frente ou continua a ficar para trás em nível de vida na UE, que por sua vez também está numa ‘corrida contra o tempo’ para se tornar mais competitiva.