Jorge Almeida, OBEGEF

Mais de vinte bancos e caixas de poupança podem ter sido lesados em mais de 50 milhões de dólares por um único cliente. A fraude foi descoberta quando o individuo em causa, um grande promotor imobiliário, morreu e a família iniciou o processo de divisão da herança.

Mais de vinte bancos e caixas de poupança podem ter sido lesados em mais de 50 milhões de dólares por um único cliente. A fraude foi descoberta quando o individuo em causa, um grande promotor imobiliário, morreu e a família iniciou o processo de divisão da herança. Foi nesse momento que as várias instituições financeiras começaram a reclamar os montantes em dívida. Aparentemente não existem ativos para cobrir os montantes devidos, apesar de todos os credores pensarem que estavam seguros por garantias reais.

O Presidente da Associação de Bancos disse à imprensa que se poderá estar em presença de um esquema “muito sofisticado” de fraude. A marosca envolvia um conjunto de empresas que se financiavam junto da banca e por sua vez financiavam a atividade do promotor. Os créditos obtidos por uma empresa do conjunto tinha como colateral as ações de outras empresas do mesmo conjunto. Assim de forma agregada a totalidade destes empréstimos não tinha qualquer garantia, para além do capital dessas empresas. Algumas das empresas cujo capital foi dado em garantia revelaram também não ter qualquer atividade, nem ativos.

Podia ser em Portugal mas felizmente esta fraude ocorreu nos Estados Unidos no Estado do Nebrasca, banhado pelo rio Platte, um estado com cerca de 2 milhões de habitantes cuja economia se baseia na agropecuária. As autoridade de Lincoln, capital do Estado do Nebrasca, estão a investigar.

O promotor imobiliário Aaron Marshbanks morreu no dia 2 de Novembro último aos 45 anos de idade e o que parece ser uma enorme fraude revelou-se pouco depois. Antigo basquetebolista, profundamente religioso, tinha uma personalidade carismática que lhe permitia desenvolver os seus negócios sem que fosse questionado.

A dimensão da fraude, apesar de tudo relativamente pequena, não coloca em causa o sistema financeiro do Nebrasca, mas levanta muitas questões sobre a forma como são avaliadas e valorizadas as garantias do crédito concedido. Este é um tema muito importante não só para os bancos norte-americanos mas para todos os bancos em geral.

Emprestar somas elevadas e receber como garantia ações de empresas sem avaliar os ativos que essas empresas possuem e se estão já penhorados, hipotecados a terceiros, é um grande risco. Recorde-se que em Portugal esta situação de concessão de elevados volumes de crédito tendo como única garantia ações de terceiras empresas avaliadas à cotação do dia, se revelaram desastrosas para várias instituições de crédito que viram esses créditos tornar-se incobráveis quando as cotações das ações baixaram na bolsa. Em Portugal ao contrário do Nebrasca, onde o volume era pequeno e dividido por dezenas de bancos e caixas, os valores envolvidos colocaram a sobrevivência de alguns bancos em causa.

O sistema financeiro do Nebrasca está integrado no sistema americano, supervisionado pelo Federal Reserve Board (Fed) e pelo Office of the Comptroller of the Currency (OCC). O Fed tem uma sucursal para o Nebrasca, o Omaha Branch localizado na cidade de Omaha a maior do Estado. Apesar de todas estas camadas de supervisão e da medidas internas de cada um dos bancos e caixas envolvidas não foi possível detetar a fraude.

Fica uma lição. São necessários melhores instrumentos para avaliar e valorizar as garantias baseadas em valores mobiliários.