Raquel Brito, Jornal i

Em Portugal não existe uma cultura de avaliação das medidas implementadas

Com inúmeros fatores de risco associados, (nomeadamente o doping, a violência, a corrupção e a manipulação de competições desportivas), importa perceber quais as medidas adotadas pelas instituições desportivas na prevenção e combate à fraude e à corrupção. Detemos, atualmente, uma panóplia de documentos nacionais e internacionais que visam regular o desporto em geral, e a competição desportiva não escapa a esta realidade.

O Comité Olímpico de Portugal (COP) revela as suas linhas orientadoras quanto às questões relacionadas com integridade e condutas eticamente responsáveis (https://comiteolimpicoportugal.pt/documentos/integridade/). Os seus diferentes textos representam passos ambiciosos, seja pelo controlo legal ou por princípios assentes nas boas práticas.

Não obstante as preocupações internacionais em regular os fenómenos problemáticos inerentes ao desporto, caberá a cada Federação especificar quais os seus próprios procedimentos.

Vejamos como três federações (p.ex. futebol - FPF, basquetebol - FPB e andebol - FPA) gerem a questão dos resultados combinados, quer em contexto nacional assim como nas competições internacionais que organizam?

No capítulo que dedica à transparência, a FPF apenas indica quem detém juridicamente os clubes de futebol (SAD´s). O tema dos resultados combinados não é aludido, assim como na FPB. Em sentido oposto, a FPA, através da sua página, destaca o tema da manipulação de resultados, dos abusos e assédio e do doping (https://portal.fpa.pt/a-federacao/integridade-no-desporto-manipulacao-de-competicoes-desportivas/). Revela preocupação com a prevenção e informa onde denunciar.

Numa análise mais fina, quer no espaço geográfico, quer no âmbito das modalidades, vejamos como atua a Associação de Ténis do Porto (ATPorto).

Nas palavras do seu presidente, António Paes de Faria, o ténis é uma das modalidades mais conhecidas, reconhecidas e praticadas no mundo inteiro, mau grado ser muitas vezes visto como uma modalidade de “elite social”. Reconhece que em virtude dos dois circuitos profissionais (ATP tour e WTA tour) que abrangem todos os continentes durante todo ano, acrescentam à modalidade responsabilidades no campo dos valores éticos. Procurando, pelo exemplo, a educação de comportamentos éticos, íntegros, de respeito e inclusão, do ponto de vista social e desportivo.

Em sintonia com a FPT, a ATPorto intervém em 3 vetores de ação:

  1. Contributos na informação e formação dos agentes desportivos (jogadores, treinadores, árbitros e dirigentes), bem como dos pais;
  2. Na implementação de boas práticas na organização das provas nacionais e internacionais,
  3. Na colaboração com as instâncias nacionais e internacionais relacionadas com promoção da ética desportiva e com o combate aos comportamentos e ações desviantes.

 

Formação

Para Paes de Faria, esta é uma área basilar porque está completamente relacionada com uma das principais missões da ATPorto: promover e contribuir para o desenvolvimento do ténis. Sendo uma associação regional tem responsabilidades sobre a forma como os seus associados (clubes e academias) conduzem a formação de jogadores. Com atenção especial aos mais jovens, referindo que “é de pequenino que se torce o pepino”.

Contudo não olvida o papel dos treinadores, árbitros, dirigentes, assim como dos pais, que reconhece como fundamental para educar os jovens jogadores no fair play e fazê-los entender quais e o porquê dos comportamentos não éticos.

Neste contexto são desenvolvidas diversas atividades formativas que promovem a construção de valores éticos e a integridade, a destacar “Da ética ao desenvolvimento” e “Treino de competências de vida”.

 

Fiscalização

Relativamente a esta matéria Paes de Faria revela que a ATPorto tem um papel ativo nas provas internacionais profissionais que organiza, agindo em completa cooperação com a ITIA, contribuindo para o seu Tennis Anti-Corruption Program (TACP).

Para este dirigente os problemas no ténis cresceram com as apostas on-line, provocados pelos apostadores ilegais no local onde há jogos (os chamados courtsiders). O aliciamento aos jogadores na manipulação de resultados, que no ténis, pode ser simplesmente um set ou até, por exemplo, um jogo de serviço, não precisando ser o resultado final.

Acrescenta que a fiscalização destas situações é uma prioridade nestas provas, tendo sempre presente que os jogadores devem estar bem informados de como a sua carreira pode ser prejudicada e os quais os prejuízos que podem provocar a quem os apoia. É promovida a denúncia evitando o envolvimento em esquemas ilegais. São, por isso incentivados a ter um comportamento eticamente positivo e pró-ativo, de 3 formas: reportando o que suspeitam; informando quando recebem propostas e cooperando com as investigações.

 

Avaliação

Para além das good practices, essenciais em qualquer organização, é fundamental perceber what works.

Lamentavelmente, em Portugal não existe uma cultura de avaliação das medidas implementadas, podendo, por esse facto, estarmos constantemente a insistir no erro.

Ainda assim, Paes de Faria revela que este ano, a ITIA passou a ter um website com muita informação sobre o que se faz, o que se deve saber e quais as consequências” no que se refere às apostas online. Acredita que a análise destas informações será um contributo para esta modalidade tão exposta a este fenómeno.

É possível concluir que algumas instituições revelam capacidade para minimizar os dados causados pela fraude no desporto, mantendo presente que esta é uma “batalha” sem tréguas.