Jorge Fonseca de Almeida, Jornal de Negócios

Nos principais mercados internacionais as empresas são escrutinadas pelos analistas, pelos investidores, pelos pequenos acionistas, pelas entidades oficiais, pelos órgãos de comunicação. Um dos critérios de boa gestão e de uma governance sólida é a diversidade na composição do Concelho de Administração.

Um Concelho de Administração diverso é hoje considerado essencial. Diverso significa incluir mulheres, membros das minorias étnico-raciais, pessoas de dentro e de fora da empresa, independentes e não apenas representantes dos grandes acionistas, pessoas ligadas às várias partes interessadas incluindo os trabalhadores como na Alemanha e na generalidade dos países nórdicos.

E como se apresentam as grandes empresas que operam em Portugal? Um desastre. Sem dúvida que as que têm capital essencialmente estrangeiro apresentam alguma diversidade, mas as estritamente nacionais não têm avançado nessa área, mantendo-se teimosamente presas ao modelo tradicional de pessoas do sexo masculino representantes do acionistas principal.

Nesta circunstância não admira que o mercado de capitais não funcione em Portugal. Os Concelhos de Administração não têm a composição que lhes permite gerir num mundo diverso e plural, não têm a independência para que os recursos não sejam desviados para benefício de um grupo acionista em detrimento dos outros (veja-se o caso BES e o caso PT), não têm a sensibilidade para reconhecer os talentos internos, nem recrutar os externos nos diversos grupos sociais. Quem quer investir numa empresa dessa natureza? Só quando não há mais alternativas.

Quando olhamos para o PSI-20 vemos empresas cotadas a escassos cêntimos, com capitalizações bolsistas diminutas quando comparadas com as de outros países, nomeadamente Espanha ou Marrocos.

Ora a obtenção de recursos financeiros nos mercados de capital é uma das fontes principais de fundos para o investimento e o crescimento das empresas públicas e privadas. Não em Portugal, que assim se deixa ficar para trás.

A diminuição do número de grandes empresas, públicas ou privadas, verdadeiramente portuguesas nas últimas décadas é perturbador. Umas faliram, outras foram tomadas por acionistas estrangeiros, poucas resistem. Por quantos anos o farão? 

A ideia de conservar centros de decisão económica nacionais esfumou-se e já ninguém fala disso.

Para este panorama desolador muito contribuiu a falta de diversidade dos Conselhos de Administração, que ao afunilar a sua visão do mundo não permitiu desenhar estratégias de sobrevivência.

É tempo de repensar a composição do Concelhos de Administração das grandes empresas e ajustá-la às melhores práticas internacionais de corporate governance. Para que a recuperação possa acontecer e não seja mais uma oportunidade perdida.