Jorge Fonseca de Almeida, Dinheiro Vivo


O Governo tem vindo a passar a ideia que a pandemia afeta todos por igual e que as crescentes dificuldades do nosso país têm um paralelo no resto do mundo. Sendo certo que poucos Estados ficaram inumes à contração económica associada ao Covid-19, a verdade porém é que uns resistiram melhor do que outros. Por isso Portugal foi em 2020 ultrapassado pela República Checa, aproximando-se cada vez mais da cauda do pelotão europeu.

Em 2021 este desigual desempenho económico vai repetir-se. A gestão da crise, a vacinação, as ajudas à população, a qualidade dos planos de recuperação diferenciam os resultados de cada país. Muito está, pois, nas mãos do Governo.

As previsões do Focus Economic Concensus, que agrega as principais previsões macroeconómicas para a União Europeia apontam para que em 2021 vários países recuperem totalmente face a 2019 e até consigam um crescimento do PIB face a esse ano. São os países mais rápidos, os que progridem mais depressa. Outros países só em 2022 atingirão os níveis de produção e riqueza de 2019. São os mais lentos, os que se deixam ficar para trás.

Quem são os que recuperam já este ano e conseguem mesmo crescer face a 2019? Vejamos alguns: A Estónia, a Finlândia, a Irlanda, o Luxemburgo, a Letónia. Ah gritam os sempre prontos a arranjar desculpas. São os pequenos países. Com essa pequena dimensão é possível recuperar mais depressa. Mas Portugal é maior. Mas esperem entre os que recuperam e crescem este ano também se conta a Alemanha e a Holanda. Bom, dizem os mesmos, são países maiores e mais desenvolvidos do que Portugal, nessas condições é mais fácil recuperar. Em Portugal temos sempre as mais díspares e disparatadas desculpas para o mau desempenho. Nunca a assunção de responsabilidade e o arrepiar caminho.

E em que grupo é que Portugal se insere? Adivinharam? Como sempre nas últimas décadas nos mais lentos a recuperar. Só em 2022 atingiremos os níveis de 2019, se tudo correr como previsto o que em Portugal raramente acontece.

A culpa é do turismo esbracejam os mesmos que nos garantiam que a exagerada aposta neste setor, feita à custa da desertificação da Capital e do despejo dos idosos, era sustentável. Pior, agora com o Reino Unido fora da União Europeia é provável que os britânicos canalizem parte do seu turismo para outras paragens, na lógica que pretendem seguir de reforço de laços com outras regiões e países.

Por outro lado o Plano de Recuperação não tem acoplado uma Estratégia de Combate à Corrupção robusta, capaz de impedir desmandos e a apropriação ilícita destes fundos estatais europeus por interesses particulares. Nestas condições a sua eficácia fica diminuída e os seus efeitos económicos a prazo reduzidos.

Portugal está, há vários anos, numa encruzilhada, a estagnação é prolongada, o empobrecimento em relação aos seus parceiros europeus persistente, a drenagem populacional lenta mas constante, a desigualdade crescente. Que caminho seguir? Que futuro para Portugal é a questão que se coloca cada vez mais. Sente-se no ar o cheiro a mofo que caracterizou o marcelismo e que se consubstanciava numa situação cada vez mais insustentável, com a qual não havia coragem de cortar nem de procurar alternativas. Em tais circunstâncias é preferível arriscar - foi o que, mal ou bem, o futuro o dirá, o Reino Unido fez.

Para conhecer as previsões do Focus Economic Concensus aceda a www.focus-economics.com/reports.