Carlos Pimenta, OBEGEF
"O que aqui referimos é, muito provavelmente, uma pequeníssima informação do que na Internet (e nas empresas que aí actuam) existe sobre cada um de nós (...)"
Quase sempre que vai utilizar um «navegador» (browser) na Internet aparece-lhe um aviso da utilização de cookies, que se pode traduzir numa linha de texto ꟷ “utilizamos cookies essenciais e tecnologias semelhantes… ao continuar navegando você concorda…” ꟷ ou ser mais extenso e remetendo para trechos adicionais.
É certo que estes avisos são postos por exigências legais, mas todos sabem que há logo à partida fortes probabilidades de carregarmos no “Aceito” porque:
- Nem sabemos, nem queremos saber, o que são e para que servem os cookies;
- É hábito proceder dessa maneira e tende a traduzir-se em continuidade nas formas de actuar;
- Queremos mesmo consultar a internet ou por exigência de trabalho ou por prazer;
- Os cookies são-nos apresentados quase sempre como bons para os utilizadores (poupam-nos trabalho).
Por outras palavras: os cookies nunca nos são apresentados como uma forma melhor de nos conhecerem para que as nossas opções sejam vendidas a quem utiliza a internet como espaço de publicidade, independentemente da sua finalidade: comercial, desportiva, política ou outra.
Muitas dessas informações (também) são guardadas no seu computador, em pastas habitualmente não visíveis, em ficheiros geralmente codificados com dimensões que, em conjunto, podem atingir vários gigabytes.
Contudo uma coisa é certa. O que aqui referimos é, muito provavelmente, uma pequeníssima informação do que na Internet (e nas empresas que aí actuam) existe sobre cada um de nós, especialmente se formos frequentes utilizadores das redes sociais.
Nas situações que temos estado a descrever (cookies) temos um conjunto de informações fornecidas por nós. No caso da utilização das redes sociais ꟷ com destaque para o Facebook, Google e, menos, o Twitter ꟷ, temos cumulativamente o resultado da actuação destas na manipulação de cada um de nós, seguindo seis princípios fundamentais [1]:
- Chamando a atenção para os com menos escrúpulos;
- Desprezando a vida privada das pessoas;
- Inundando o espírito das pessoas com conteúdos de todo o género;
- Dirigindo e influenciando o comportamento das pessoas, com a maior descrição possível;
- Embolsando lucros que resultam dos menos escrupulosos manipularem secretamente as pessoas;
- Existirem falsas pessoas numa sociedade fictícia.
Por isso Jaron Lanier, autor destas seis características das redes sociais ꟷ que resultam da observação da realidade ꟷ defende que abandoná-las seria um acto de resistência face às loucuras da nossa época. Um trampolim para uma actuação mais firme.
Será viável?
Notas
[1] Lanier, J. (2020 [2018]). Stop aux Réseaux Sociaux - 10 bonnes résons de s'en méfier et de s'en libérer (G. Bardiaux, Trans.). Louvain-la-Neuve: DeBoeck Superieur.