Jorge Fonseca de Almeida, Dinheiro Vivo

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Em Portugal os problemas não se assumem de frente. Não há pobreza existem pessoas no limiar da pobreza, o serviço nacional não colapsa está a beira de colapsar, não há racismo mas alguns preconceituosos, não há desastre económico mas um ambiente recessivo, a TAP não faliu está com dificuldades, etc., etc.. Definir um problema é meio caminho andado para o resolver. Não definir um problema é, inversamente, caminho seguro para o não conseguir debelar.

Esta fuga aos problemas revela duas características típicas das elites económicas e políticas nacionais: a incompetência e a irresponsabilidade. Não sendo capazes de resolver nenhum problema defendem-se evitando responsabilidades.

Uma Diretora Geral engana-se, com profundas repercussões na vida dos portugueses, a encomendar as vacinas para a gripe. É despedida? Não. É uma heroína que luta na linha da frente (provavelmente é verdade, mas claramente não está do nosso lado).

Uma responsável permite os maiores desmandos nos seus serviços, ao ponto do encobrimento do assassinato de um cidadão estrangeiro? É despedida? Não, é promovida, para lugar a ganhar muito mais.

Um gestor leva uma grande empresa de aviação à falência. É despedido? Não é promovido e aumentado.

Este clima de irresponsabilidade, de prémio ao erro, é típico do nosso país e tem como contrapartida o ódio ao mérito. Uma mulher Negra consegue ser eleita deputada sem um aparelho partidário? Vá para a sua terra. O maior banqueiro depois do 25 de Abril, o homem que juntou a equipa que criou o único banco multinacional português vê a sua pensão (elevada sem dúvida, mas justa) reduzida pelos seus sucessores que transformaram essa instituição num banco estrangeiro. Os exemplos sucedem-se.

Esta irresponsabilidade tem prejudicado o país em múltiplas áreas, nomeadamente na saúde e na economia. Não permite enfrentar os problemas, nem colocar a pessoa certa no lugar certo.

A política do para (parcialmente) arranca durante a pandemia tem levado a milhares de mortes e a uma profunda recessão. Prometeu-se uma recuperação em V agora confirmam que a crise será duradoira. Consequências? Nenhumas. Prometem-se apoios? Mas estes não chegam a quem precisa. As filas na sopa dos pobres alastra. Consequências?

Dizem-nos que os mortos vivem nos lares. Mas então para que serve um confinamento geral? Dizem que os mortos são os idosos mas começam a vacinar as forças de segurança, constituídas por jovens saudáveis. A desorientação é completa.

Organizam-se eleições presidenciais em plena pandemia, mas não se acautela o voto pelo correio, nem o voto por drive in. Apenas o voto presencial. Todos os eleitores em dois dias (o dia das eleições e o dia do voto antecipado). Apuram-se responsabilidades? Pergunta retórica já sabemos que não.