Jorge Fonseca de Almeida, Dinheiro Vivo (JN / DN)
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Portugal e Suécia tem uma população equiparada, ambos os países têm cerca de 10 milhões de habitantes, Portugal ligeiramente mais a Suécia um pouco menos, mas são nações muito diferentes em outros indicadores.
Recentemente os políticos portugueses exultaram. Aparentemente a sua estratégia parecia melhor a combater a pandemia. Um olhar mais em detalhe demonstrou o contrário.
Os números são claros morreram mais de 2.500 pessoas em excesso em Portugal do que na Suécia.
Portugal tem, pois, mais mortes excessivas do que a Suécia e se tem menos mortes por Covid tal é a custa de deixar morrer muito mais pessoas de outras causas, mortes que em anos anteriores seriam evitáveis. No fundo estas mortes excessivas demonstram o falhanço e o colapso disfarçado do Serviço Nacional de Saúde - o combate à pandemia está a ser feito à custa de deixar de assegurar a normal prestação de cuidados de saúde à população.
Também ao nível da proteção da economia os resultados são muito diferentes. Portugal tem mais infeções por Covid que a Suécia com as implicações que isso tem na produtividade.
De acordo com as previsões do FocusEconomics recentemente publicadas Portugal depois de dois trimestres já negativos, terá uma redução do PIB de 10,3% no terceiro trimestre de 2020 e de 9,1% no quarto trimestre, o que dará uma queda global para 2020 de 9,1%. Mas estas previsões não incluem uma cada vez mais provável segunda quarentena. Para a Suécia o Eurostat prevê uma quebra de 5,3% em 2020. Ou seja quase metade da portuguesa.
Mais uma vez se confirma a tese de que proteger as pessoas é proteger a economia e querer proteger a economia à custa das pessoas não resulta.
O número de casos continua elevado, as mortes de Covid-19 e de outras causas mas por causa dos efeitos do Covid-19 no sistema de Saúde, continuam a níveis acima da média, as medidas tomadas revelam-se ineficazes e tardias. Os hospitais enchem-se e as escassas camas de cuidados intensivos também.
É certo que não é só em Portugal, a França, a Itália, a Espanha e o Reino Unido a quem temos seguido acriticamente também têm péssimos resultados. Pouco a pouco têm-se aproximado da estratégia chinesa, a mesma que apelidaram de totalitária em Março. Uma estratégia simples assente no uso generalizado de máscaras, no recurso a uma APP para identificar e ajudar a quebrar as cadeias de transmissão, na quarentena precoce, no isolamento de regiões mais afetadas, na construção de mais hospitais para evitar o colapso do sistema de saúde, na transferência de recursos para as áreas mais afetadas.
A França, o Reino Unido e a Alemanha já têm quarentenas parciais e incompletas. Como todas as meias medidas não serão tão eficazes como respostas concertadas e mais robustas.
Pouco a pouco vai-se percebendo o declínio ocidental que a estratégia de combate a esta pandemia está a revelar e a superioridade asiática na rapidez e eficácia dos procedimentos adotados.
É preciso mudar de rumo.
Economista