Jorge Fonseca de Almeida, Dinheiro Vivo
Enquanto os bancos que operam em Portugal se debatem com o problema ainda não resolvido do crédito mal parado, como o caso Novo Banco atesta, e esperam orientações estratégicas das suas casas-mãe em Espanha, China ou nos Estados Unidos, na Europa alguns bancos mais dinâmicos começam a alterar profundamente a sua rede de distribuição comercial.
O sueco Handelsbanken por exemplo anunciou uma profunda alteração baseada em quatro eixos essenciais: descentralização, desburocratização, aumento da disponibilidade e forte redução da rede física. Esta recentragem da rede de distribuição torna-se possível pela aceleração da digitalização. Assim no futuro as agências serão mais qualificadas, mais produtivas mas em muito menor número.
Se antigamente a sucursal era a espinha dorsal da distribuição comercial de serviços financeiros, seguida pela interação por telefone (através de call centers) e só depois vinha a internet e em último o mobile, toda a estratégia se foca hoje em inverter esta pirâmide colocando como canal preferencial de venda e de operação o digital (mobile e internet) apoiados pelo telefone e só sem último caso a sucursal.
A desburocratização assenta também no digital que vem permitir achatar a estrutura interna. Por isso o Handelsbanken pretende ter uma organização municipalizada com maior delegação de competências. Isso vai permitir ter mais de 100 sucursais sem gerente de sucursal exclusivo, antes permitindo a um gerente de sucursal gerir várias sucursais em simultâneo.
Uma revolução? Não verdadeiramente, apenas o acelerar de tendências e experiências que se multiplicavam mas não se massificavam.
E Portugal? No nosso país há limitações que advém das características da população em termos de literacia digital que não permite uma tão grande migração de vendas e de operações para esses canais.
Há um grande mercado sedento de adotar as novas plataformas digitais, de usar o mobile e a internet para as suas compras de produtos financeiros, para constituir os seus depósitos a prazo, para fazer as suas transferências e pagamentos. Excelente. Mas existe um mercado ainda maior em número embora de menor capacidade financeira, que persiste nos pagamentos em dinheiro, que não acede à internet e não sabe usar o mobile. Temos verdadeiramente um mercado dual.
A falta de investimento em educação paga-se sempre durante décadas porque uma população menos instruída implica que muitas inovações não possam ser rapidamente massificadas com as vantagens que daí advém para todos, e que seja sempre necessário manter uma oferta a duas velocidades, o que naturalmente tem custos acrescidos.
E o que não foi feito 20/30/40 anos atrás só pode ser refeito com muita dificuldade. Tal como para as lacunas da educação de hoje a fatura nos será apresentada ao longo dos próximos 40 anos em termos de limitação ao crescimento, de menor produtividade e desenvolvimento económico e social.
Acresce que em Portugal mesmo os bancos que mais investem no digital têm muitas limitações. Este ano, durante o período de confinamento pretendi abrir uma conta com dois titulares. Impossível. Os poucos bancos que oferecem esta possibilidade só aceitam contas individuais. E no único banco que aceitava abrir contas coletivas o processo revelou-se tão complicado, com o seu sistema de vídeo conferencia sempre a cair, que tivemos de desistir.
Temos muito para melhorar. É urgente começar. A digitalização da economia é, sem dúvida, uma prioridade.