Jorge Fonseca de Almeida, Jornal de Negócios
Portugal não parece preparado do ponto de vista de se dotar de uma estratégia clara para enfrentar a crise que já se instalou e para resistir à tempestade que aí vem.
Resguardados em casa numa quarentena imprescindível muitos analistas, economistas e jornalistas não se apercebem da dimensão do desastre económico que temos pela frente. As cadeias de produção globalizadas de que Portugal faz parte foram interrompidas e estão em reconstrução nada garantindo que continuem a passar pelo nosso país.
O desemprego está a explodir em muitos países centrais, a retração económica atinge valores nunca vistos neste século. A Alemanha anunciou uma quebra de 16% na produção industrial.
À medida que a poeira assenta verificamos que as medidas de apoio à quarentena e as medidas de relançamento económico estão já a ser pagas por uma desvalorização salarial (através do lay-off) e do desemprego. Vai seguir-se um muito provável aumento da carga fiscal sobre o trabalho. É que o apoio da União Europeia continua condicionado à austeridade orçamental. As palavras mudaram mas as políticas permanecem.
O tão propalado e necessário aumento do investimento em saúde já está comprometido pela regra de contratação da função pública "sai um, entra outro" que não permite o reforço de efetivos.
As bolsas, os investidores e acionistas foram protegidas pela intervenção massiva do Banco Central Europeu mas os cidadãos estão entregues à sua sorte, com escassos ou nenhuns apoios sociais. A sociedade tem de pagar a proteção dispensada aos investidores.
Muitos acreditam que a Alemanha e a União Europeia vão embarcar numa política de diminuição da globalização, trazendo para a Europa muitas industrias que hoje estão deslocalizadas na Ásia. Um el dourado para os países de mão-de-obra barata.
É um cenário, entre outros. Não esqueçamos que a Alemanha vive das exportações e que a China é um dos seus maiores clientes. Não será do seu interesse perder um tão importante cliente. Os maiores compradores de produtos alemães são por esta ordem: os Estados Unidos, a França e a China. Os Estados Unidos estão a fechar-se às exportações alemães, se a China também se retrair a Alemanha ficará em maus lençóis. Mais natural é que face à retração americana a Alemanha querer aprofundar os seus laços com a China para compensar.
E do ponto de vista Alemão não fará sentido substituir importações de um país por importações de outro mesmo que parte do mesmo espaço económico. Também não é líquido que, mesmo no cenário improvável de fechamento europeu, que os países centrais prefiram investir em Portugal do que no seu próprio território ou em países mais próximos.
Portugal não parece preparado do ponto de vista de se dotar de uma estratégia clara para enfrentar a crise que já se instalou e para resistir à tempestade que aí vem.
Economista